São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Vítimas e factóides

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Claudia Regina e Angelina são duas jovens mães, com 24 e 21 anos respectivamente, que vivem na Baixada Fluminense, próximo ao Rio. Para garantir o sustento de seus bebês ambas cumpriam extensa jornada de trabalho em uma fábrica de calçados da região.
No final de julho, por conta dos tropeços da economia nacional, a fábrica fechou. Claudia e Angelina, assim como os demais 300 funcionários da empresa, foram para a rua.
Mais um problema para as moças: alegando não dispor de recursos para pagar as indenizações devidas a empresa entregou pares de sapatos a ambas.
Pior: o volume de pares não cobriu nem metade do valor que deveriam receber e elas sequer puderam escolher os modelos e números dos calçados.
Agora, sem direito a nada, a não ser o de reclamar na Justiça, a vida das duas jovens mães se resumiu a isso: precisam vender os sapatos que não pediram para poder alimentar seus filhos.
Pobres vítimas do real.

Eis que o prefeito César Maia volta ao noticiário com mais um de seus ``factóides", procedimentos por ele criados para causar ruídos, que em geral nada de bom acrescentam à vida da cidade, com o intuito único de justamente voltar ao noticiário.
Dessa vez, aparentemente, a causa era nobre: a tão adiada e até já tardia homenagem ao compositor Tom Jobim. Maia decretou a troca do nome de mais uma rua tradicional do Rio, desta feita a Visconde de Pirajá, pelo do compositor morto no começo do ano.
Assim como ele tinha determinado, por decreto, a troca do nome da avenida beira-mar de Ipanema, a Vieira Souto, sob a alegação de homenagear o maestro. Vereadores da cidade foram à Justiça e conseguiram reverter a iniciativa.
O mesmo deve acontecer de novo.
Enquanto o prefeito continuar a agir dessa maneira -trocar placas de ruas na calada da noite para ganhar espaço na mídia- é bem provável que a homenagem a Tom Jobim nunca se concretize.
Mas a publicidade de Maia, esta sim, estará sempre garantida.

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