São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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A violência na Amazônia

LIGIA T. L. SIMONIAN

LIGIA T.L. SIMONIAN
A violência praticada na Amazônia brasileira não é de todo particular, pois traz em si o germe daquela constitutiva do Estado e de um processo histórico e social que persiste há séculos.
Nesse sentido, torna-se irrelevante se a violência é silenciosa, silenciada por táticas ameaçadoras, ou se é revelada por brutalidades de toda sorte. O que importa é que ela se realiza cotidianamente via práticas genocidas, massacres, execuções, estupros, torturas etc.
No caso, os comumente violentados são os povos indígenas, não-índios extrativistas, ribeirinhos, "sem-terra", garimpeiros, mulheres, crianças etc.
No período pós-conquista européia, a violência aparece ao longo dos diversos e sucessivos processos de dominação das populações nativas, o mesmo ocorrendo quando da expansão do extrativismo ligado às "drogas do sertão", à produção da borracha, da castanha.
Nas últimas décadas, tal fenômeno tem dominado nos contextos dos "grandes projetos", ou seja, junto àqueles vinculados à agropecuária, mineração, produção de energia elétrica e indústria madeireira.
Como a humanidade continua a relutar em aprender com tantas experiências anteriores de caráter similar, as práticas violentas continuam implacáveis nos contextos rurais, núcleos rurais urbanizados, ou nas cidades.
O recente massacre de oito adultos sem terra, de uma menina e a morte de dois policiais que os atacaram na fazenda Santa Elina, em Rondônia, demonstra, mais uma vez, a resistência da violência na região.
Outros 53 sem terra foram hospitalizados, um deles em estado grave. Logo após, no Pará, trabalhadores escravizados foram assassinados na fazenda Manah; estima-se que o número de mortos seja alto. Na área fronteiriça sul desse Estado com o Amapá, assassinatos e mutilação de corpos de garimpeiros têm também vindo a público.
Exceto a uns poucos, o conhecimento destas e de outras ações similares, não surpreendem ou incomodam. O envolvimento das autoridades é quase sempre momentâneo, se perdendo em gavetas, arquivos, no tempo.
Numa tentativa ainda que frágil, profissionais de diversas áreas continuam documentando, divulgando e/ou denunciando esse "estado de violência" na região.
E, apesar da xenofobia de muitos setores sociais regionais e nacionais, todo o esforço mais recente de parte de indivíduos, organizações ou de governos estrangeiros, tem tido pouca valia. Mesmo assim, a indignação não pode esmorecer face à banalização da violência.

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