São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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Nunca tente subestimar o poder da Internet

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A popularidade cada vez maior da rede de comunicações conhecida como Internet é o fato isolado mais importante a acontecer na indústria da informática desde a introdução do computador pessoal da IBM, em 1981.
É ainda mais importante do que a chegada da interface gráfica, da utilização de imagens na tela e das fontes tipográficas.
Usando a Internet, uma pessoa que está em Tóquio pode consultar horários de trens na Europa; um estudante em San Francisco pode pesquisar os cursos oferecidos pela Universidade Cornell, no estado de Nova York; e pessoas no mundo inteiro podem trocar mensagens eletronicamente, em ``comunidades virtuais" dedicadas a milhares de assuntos diferentes.
As pessoas estão até começando a usar a Internet para fazer telefonemas interurbanos. A qualidade da voz ainda não é muito boa, mas vai melhorar à medida que os problemas forem superados.
A analogia entre os primórdios do PC da IBM e a Internet é pertinente. De início, o PC não era perfeito; a Internet tampouco. Alguns aspectos do PC eram arbitrários e até mesmo deficientes, assim como alguns da Internet.
Mas o fenômeno criado pela IBM tornou-se o elemento mais importante da indústria da computação nos 14 anos seguintes. Energias imensas foram aplicadas na exploração de seus pontos fortes e na superação de seus pontos fracos. Hoje existe um impulso impressionante por trás do PC. A maior parte dos equipamentos e programas interessantes é criada para ser usada nele.
Como o PC, a Internet é um maremoto. Ela vai subjugar a indústria da informática e muitas outras, afogando quem não aprender a nadar em suas ondas. A Internet tem deficiências, mas elas serão superadas. Consequentemente, as empresas precisam levar a Internet em conta nos planos que traçam. Esse é um campo no qual estou praticando o que prego.
Todos os grupos de produtos -desde o ``Windows" até o ``Word", passando pelo The Microsoft Network- transformaram o apoio à Internet em sua maior prioridade. Por exemplo: o grupo ``Word" está encarregado de transformar o ``Word" em uma maneira excelente de escrever e ler conteúdos on line.
Sabemos que o futuro da empresa depende, em parte, de nossa capacidade de adaptação a um ambiente competitivo, transformado pela Internet. Nem sempre é fácil reagir a um ambiente que se transformou -mas, como eu já afirmei em colunas anteriores, é uma necessidade absoluta.
Mesmo em suas etapas iniciais, a transição a um sistema de comunicações pouco caro, representado pela Internet, está levando as pessoas a questionar pressupostos antigos -às vezes, sem mesmo darem conta disso.
Por exemplo: as pessoas, frequentemente, me perguntam como as empresas ligadas na Internet têm condições financeiras de oferecer acesso ilimitado até mesmo a outros países, sem cobrar telefonemas interurbanos e internacionais. O pressuposto implícito é que a comunicação custa caro e que deve ser cobrada com base no tempo e na distância.
Acontece que a Internet desafia todos esses pressupostos.
O preço pago por uma empresa para se ligar à Internet é determinado pelo tamanho de sua ``on-ramp" e não por quanto essa conexão é de fato utilizada. O uso sequer é medido e não importa se você consulta informações armazenadas perto de você ou em algum lugar situado do outro lado do planeta.
Excetuando os usuário da Internet e de redes particulares, as pessoas ainda não sentiram uma redução significativa no preço das comunicações. As redes de cabo e telefone ainda estão amortizando redes que construíram com a tecnologia antiga (e cara). No mundo inteiro, monopólios estatais ou sancionados pelo governo vêm mantendo os preços da comunicação em patamares altos.
Mas a Internet está crescendo tão rapidamente que a tecnologia mais recente e menos cara está sendo incorporada a ela o mais rapidamente possível. Alavancas de telecomunicações instaladas há poucos meses para manter a Internet em funcionamento nem sequer existiam um ano atrás.
Os provedores da Internet alugam linhas de comunicações em sistema de leasing. O mercado para as linhas telefônicas interurbanas alugadas em leasing é muito competitivo, fato que mantém os custos em níveis baixos.
Resumindo, a Internet é a única rede pública cuja economia reflete os últimos avanços na tecnologia de comunicações e todos os benefícios da concorrência.
Não é por acaso que a World Wide Web, da Internet, que permite a transmissão de imagens e fontes pela rede, tenha se popularizado hoje em lugar de alguns anos atrás. Se milhões de pessoas tivessem tentado receber e transmitir imagens pela Internet no início da década, o sistema teria ficado sobrecarregado e teria pifado. Mesmo agora, está operando no limite de sua capacidade.
É possível que a Internet tropece em alguns problemas menores. Ela pode cair em ligeiro atraso ou sofrer má coordenação. Esses obstáculos temporários não vão afetar seu sucesso global.
O sucesso é garantido em parte porque a Internet virou o primeiro canal global para publicação de informações. Qualquer pessoa pode se tornar editora. A rede já tem tantos usuários que está se beneficiando de um feedback positivo: quanto mais usuários consegue, mais conteúdo recebe; quanto mais conteúdo recebe, mais usuários consegue.
Até agora, a maior parte desse conteúdo está sendo gratuito. Pessoas e empresas publicam informações na Internet porque é divertido ou para amealharem experiência e ficarem conhecidas. Por enquanto, pelo menos, elas perdem dinheiro com isso.
Alguns serviços comerciais on line, como o CompuServe e o The Microsoft Network, estão se transformando em comunidades na Internet nas quais as pessoas pagam para serem sócias. Uma vez sendo sócio, recebe-se muita coisa sem pagar qualquer taxa extra e também há a oportunidade de receber determinados tipos de conteúdo e de comunicações, pagando a mais para isso.
Em última instância, ninguém sabe como será a divisão entre locais gratuitos e comerciais na Internet. Isso será decidido pelos consumidores.
Enquanto isso, incontáveis empresas estão fazendo suas apostas, levando motivação comercial a um mundo em que, até pouco tempo atrás, isso não existia.
Apenas algumas das empresas que estão apostando na Internet serão vencedoras. Mas aquelas que apostarem contra a Internet certamente sairão perdendo.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência pode ser enviada a Bill Gates no endereço eletrônico askbill microsoft.com.
Tradução de CLARA ALLAIN

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