São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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O mistério cresce

JANIO DE FREITAS

Não está claro o sentido da "privatização selvagem" que o presidente não quer, nem, muito menos, sabe-se o que é "o interesse do país" que o ministro Sérgio Motta opõe à "febre privatizante", por ele atribuída, sibilinamente, ao PFL.
Agora mesmo é que ficará impossível até imaginar aqueles significados. Se a compra de estatais já era quase um presente, com a anunciada redução de juros do BNDES o "quase" desaparece de vez.
A Copene, privatizada no último dia 15, foi comprada com dinheiro tomado no BNDES. Os empréstimos do banco custavam, então, caridosos 6% de juros ao ano, mais a Taxa de Longo Prazo. Já eram altamente compensadores para arrematar estatais. E ainda vão baixar. O que seria, diante disso, "privatização selvagem" e "interesse do país", é um mistério impenetrável.

Faz-de-conta
O abrandamento das restrições ao crédito, prometido pelo governo para a reunião de anteontem do Conselho Monetário Nacional, não aconteceu.
O abrandamento desejado pelos autores da promessa era outro: o das críticas, que se intensificavam, ao aperto do crédito. Obtiveram dos jornais o que desejavam, não deram o que deles era desejado pelos leitores -a eterna massa de manobra.

Irredutíveis
Há de existir algum fiscal da Receita Federal, algum fiscal do Trabalho, algum fiscal do INSS para dar uma batida severa na Forjaria São Bernardo, no ABC paulista, e na Acesita, que controla a forjaria. É a mínima resposta a ser dada às duas empresas pelo ato sórdido -narrado por Sandra Balbi no "Jornal do Brasil"- contra o metalúrgico José Raimundo Valença.
Portador de surdez adquirida no trabalho e de uma doença estomacal, que o impede de fazer refeições normais, Valença foi acusado de roubo do pãozinho que levava no bolso, um dos dois que comia no seu penoso turno da noite. Tinha 20 anos de casa e estabilidade em função da doença adquirida no trabalho. Sob a acusação de roubo, foi demitido por justa causa, sem reconhecimento de qualquer dos seus direitos. "A empresa está irredutível", diz a reportagem.
Tomara que encontre fiscais irredutíveis na verificação de sonegações e ilegalidades praticadas pelos diretores -da Forjaria e da Acesita.

Granadas
O senador Antônio Carlos Magalhães está em silêncio, digamos, jornalístico. Mas, para não acumular fúria, está mandando cada telegrama de arrepiar. Ainda bem que descarrega com exclusividade para o destinatário, ou, do contrário, provocaria várias catástrofes biográficas.
Os telegramas, de retorno ao que Antônio Carlos tomou como insultos nas últimas semanas, estão mostrando a alguns de seus desafetos o quanto ele conhece das suas faces ocultas.

Agradecimento
Agradeço aos auditores da Receita Federal que, no Ceará, escolheram os jornalistas de sua preferência. E agradeço ainda pelos acompanhantes que me foram dados: Carlos Heitor Cony e Clóvis Rossi.

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