São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Homossexuais proíbem câmeras

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

As homossexuais que vieram a Huairou se reuniram ontem na barraca 46 e se cercaram de muitas precauções para impedir sua identificação.
Proibiram filmagens, pediram aos jornalistas que se identificassem e até houve uma proposta, não-aprovada, de se impedir a entrada de homens na barraca.
"Muita gente não quer ser identificada porque enfrentaria problemas em seu emprego ou na família", disse a francesa Dalila. Questionada sobre seu sobrenome, ela respondeu: "Dalila já é suficiente".
Cerca de 50 mulheres lotavam a tenda para escutar intervenções feitas ao microfone e fugir da chuva. A proposta de impedir a entrada de homens surgiu quando três representantes do sexo masculino acompanhavam a reunião.
"Eu sei que pode haver espiões do governo aqui", disse uma norte-americana que coordenava o debate. "Mas a idéia da tenda é manter-se aberta como um centro de informações, sem censura. Além disso, seríamos a única tenda a barrar alguém." Sua argumentação derrubou a idéia.
Entre os seminários a serem realizados, está o "Não somos loucas: as lésbicas e o sistema de saúde mental", que vai discutir o caso de adolescentes norte-americanas internadas em hospitais psiquiátricos por demonstrarem inclinações homossexuais. "Lesbianismo em diversas culturas é outro tema de debate.
As norte-americanas monopolizavam o microfone. Uma delas buscou dar um toque internacionalista ao mostrar um mapa-múndi e pedir que cada ativista colocasse um alfinete em seu país de origem.
"Fazemos isso para mostrar que estamos em todos os lugares", gritou a norte-americana. A platéia explodiu em aplausos.
Havia homossexuais, por exemplo, da Croácia e da Austrália. Estas organizaram um grupo chamado "Coal" (carvão, em inglês), que é a sigla de Coalizão das Lésbicas Militantes.
O comércio na barraca oferecia "buttons" com a inscrição, também em inglês, "Direitos das Lésbicas São Direitos Humanos", pelo preço de US$ 1 ou 8 yuans (moeda chinesa).
Essa discussão e esse tipo de material de propaganda aparece como novidade na China governada pelo moralismo do Partido Comunista.
Algumas chinesas que trabalham na organização do encontro de ONGs arriscavam uma espiadela na barraca das homossexuais. Mas não ficavam muito e se recusavam a dar entrevista.
A aparição de uma máquina fotográfica era suficiente para afugentá-las. "Não precisam ter medo", disse em inglês uma homossexual norte-americana.
"Aqui só deixamos tirar foto quem é do movimento, não tem imprensa. As chinesas pareceram não entender, porque apertaram o passo e afastaram rapidamente.
(JS)

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