São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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França pode retomar hoje teste nuclear no Pacífico

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A partir de hoje, a França deve explodir sete ou oito bombas num poço sob o mar, no atol de Mururoa (Polinésia Francesa, oceano Pacífico). É o primeiro teste no atol desde 1991.
O governo francês informou ontem que não vai anunciar previamente a data precisa dos testes nucleares que deve realizar entre hoje e setembro de 1996, "por medidas de segurança".
O presidente francês Jacques Chirac disse ontem que seu governo está negociando a inclusão do arsenal nuclear francês no sistema de defesa europeu.
O grupo ambientalista Greenpeace também faz segredo das ações que deve realizar para conturbar os testes.
"Queremos fazer surpresas, tanto em Paris como em Mururoa", diz Penelope Komites, diretora do Greenpeace francês.
Os navios do grupo lideram a "Frota da Paz", 16 embarcações que estão ao largo de Mururoa para protestar e, eventualmente, invadir as águas do atol. Hoje, em Paris, os ambientalistas pretendem ignorar a proibição policial e fazer uma manifestação contra os testes.
O governo e a Marinha franceses também se prepararam para a batalha de mídia.
Chirac disse ontem que recomendou a "máxima cordialidade possível" aos militares que vigiam a "Frota da Paz".
Segundo o Ministério da Defesa, o maior perigo da manifestação é o helicóptero Greenpeace.
"Não há como detê-lo sem riscos para os militares e para os manifestantes", diz a assessoria do ministério.
A Marinha francesa está "armada" de câmeras, seus comandos de abordagem dos navios invasores não usarão capuzes pretos e vão tentar evitar o emprego de bombas de gás lacrimogêneo.
Foi deste modo que, em julho, os militares franceses abordaram o navio-símbolo do Greenpeace, o Rainbow Warrior 2º, que invadira as águas de Mururoa. O Rainbow Warrior original foi afundado pelo serviço secreto francês em 1985.
As imagens da abordagem de julho, filmada pelo Greenpeace, inflamaram a campanha mundial contra os testes, que a França havia interrompido em 92.
Para os protestos em curso, o Greenpeace embarcou 16 equipes de jornalistas do mundo inteiro.
Nesta semana, o ministro dos Territórios de Ultramar da França, Jean de Perretti apareceu na TV mergulhando até a boca do poço dos testes nucleares.
Levou um medidor de radiatividade e disse que a radiação no poço era menor que a de Paris.
Segundo a França, a atual temporada de explosões vai servir para testar uma nova ogiva, checar a confiabilidade das armas francesas para os próximos 15 anos e obter dados para o programa de simulação de testes nucleares.

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