São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Greenpeace e polícia se enfrentam via rádio

HÉLÈNE CRIÉ
DO "LIBÉRATION"*

As redondezas do arquipélago de Tuamotu (oceano Pacífico) parecem uma praça pública horas antes de uma grande manifestação.
Os 30 navios da Frota de Paz, vindos da Austrália e da Nova Zelândia, só começaram a chegar.
Os do Greenpeace, o Rainbow Warrior 2º e o MV Greenpeace, já estão no local.
À sua frente, a polícia -várias fragatas e torpedeiros- esquadrinha o terreno e fecha o acesso.
Helicópteros fotografam os locais onde os barcos se reúnem. As câmeras de TV estão a bordo de navios militares, da "frota arco-íris" e de veleiros e de barcos pesqueiros fretados pelas emissoras.
Essa multidão toda circula em torno dos atóis de Mururoa e Fangataufa. Uma frota de "táxis-zodíaco" (do Greenpeace) interliga as diferentes embarcações, transportando homens, material, alimentos, telefones celulares, câmeras, água e combustível.
O capitão Jonathan Castle toma o microfone para responder: "Aqui é o Rainbow Warrior 2º. Estamos a um quarto de milha do perímetro. Não precisam temer!"
O ambientalista francês Jean-Luc Thierry coça a cabeça, duvidoso. "É incrível como as ações do Greenpeace continuam a exercer um fascínio tão grande, depois de 25 anos." Ele oferece uma explicação: "Os militantes do Greenpeace representam milhões de pessoas que não podem vir ao local para se manifestar. Quando fazemos manifestações, estamos representando essas pessoas".
A tensão cresce a bordo do veleiro. O fatídico prazo final, que marca a retomada oficial da campanha de testes, aproxima-se rapidamente.
Depois de nove dias no mar, os militantes da organização ecológica estão cansados de esperar: querem entrar em ação logo.
A maioria deles pensa que essa campanha contra os testes nucleares no Pacífico será a última.
Acham que o Estado francês vai forçosamente ceder às pressões. Claudia Sieg, a alemã encarregada das relações com a imprensa de seu país, é mais cética: "Chirac poderia ter desistido há algumas semanas sem constrangimentos. Mas ele ainda pode reduzir o número de testes".
O Greenpeace tem consciência de estar pela última vez agindo no mar, seu terreno favorito.
Se o grupo e seus aliados da Frota da Paz fracassarem, ainda restará a arma do boicote.
O assunto é discutido todas as noites no Rainbow Warrior 2º. O boicote total dos produtos franceses é defendido pelos alemães, que viram o resultado em seu país, há alguns meses, com a rejeição popular aos postos Shell.
Jean-Luc Thierry já tentou várias vezes explicar a seus companheiros que o interessante, em sua opinião, seria um boicote seletivo, poupando quem se manifestar contra os testes franceses.
Às 15h de anteontem, todos os navios, civis e militares, circulavam em volta de uma embarcação de Rarotonga, nas Ilhas Cook. Era um barco a vela com ar pré-histórico e tripulação de 20 pessoas.
O barco pertencia ao governo do país. Ele chegou perto dos atóis, após 2.000 km percorridos em seis dias, puxado pelo motor da única embarcação da polícia nacional do arquipélago.

*A jornalista Hélène Crié está a bordo do Rainbow Warrior 2º
Tradução de Clara Allain

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