São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Mulheres ignoram protestódromo e fazem manifestações em Huairou

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O governo chinês, acostumado a reinar absoluto, queria que as manifestações no encontro das ONGs se confinassem a uma escola, um "protestódromo". Mas as mulheres não aceitaram a ordem e promoveram pequenos protestos nas ruas de Huairou.
Ontem houve protestos da Anistia Internacional contra violações dos direitos humanos das mulheres e uma manifestação de japonesas contra testes nucleares.
Também foi mostrado vídeo contrabandeado de Myanma (ex-Birmânia) com pronunciamento de Aung San Suu Kyi, a líder do movimento pró-democracia.
Ela, Prêmio Nobel da Paz, foi libertada em julho passado, depois de seis anos em prisão domiciliar. Não tentou viajar a Pequim com medo de que o governo militar de Myanma impedisse sua volta.
Aung San Suu Kyi pediu às mulheres que se mobilizem contra a intolerância e que busquem trazer "mais luz ao mundo".
Enquanto o vídeo era mostrado, havia fora do prédio uma manifestação de cerca de 20 militantes da Anistia Internacional, entidade pró-direitos humanos e não-governamental com sede em Londres. Mostravam 12 casos de violações de direitos humanos de mulheres.
Citavam o caso de duas chinesas presas. A jornalista Gao Yu foi acusada de revelar "segredos de Estado" em reportagens sobre corrupção no governo.
Contra a religiosa budista Phuntsog Niydro pesa a acusação de defender a independência do Tibete, região ocupada por tropas chinesas.
Hoje pela manhã, um grupo de nove exiladas tibetanas, amordaçadas, fez um protesto contra a China. Mulheres à volta gritaram: "Liberdade, liberdade". Policiais vigiaram o ato sem interferir.
No vídeo também foi mencionado o caso da brasileira Edméia da Silva Eugênio. Ela e sua amiga Sheila da Conceição foram assassinadas no Rio de Janeiro no início de 1994. A Anistia suspeita que policiais sejam os responsáveis.
Edméia foi uma das líderes do movimento de mães que exigia investigação para o caso de 11 crianças sequestradas em uma fazenda em Magé (RJ) em julho de 1990, desaparecidas até hoje. Entre os sequestrados estava seu filho.
A polícia chinesa não interveio para dissolver a manifestação da Anistia. Uma chinesa com um megafone disse em inglês que o ato deveria ser realizado no "protestódromo". Foi ignorada.
A polícia, no entanto, filmou a ação da Anistia. Essa tem sido uma de suas tentativas de intimidar os ativistas. Num seminário sobre direitos humanos, dois fotógrafos e dois cinegrafistas registraram imagens dos participantes.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Chen Jian, admitiu ontem que as leis da ONU prevalecem nos locais do encontro de ONGs e da conferência.
Portanto, há em Huairou liberdade de expressão, e a polícia não pode exigir a limitação das manifestações ao "protestódromo".

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