São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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O dinheiro que sobra

JANIO DE FREITAS

Os gastos do governo com as frivolidades das suas vedetes, com os abusos sem controle e com os abusos autorizados elevam-se a uma fortuna incalculada e talvez incalculável. Capaz, com toda a certeza, de financiar muitos dos programas que o governo diz não poder realizar por falta de dinheiro.
O facilitário para viagens é total. Um dos truques de certos ministros, para ficar em Brasília só de terça a quinta, é arranjar eventos por aí, de preferência na sua terra, às segundas e sextas. Encontros com empresários, assinaturas de convênios que deviam ser assinados no próprio gabinete, posse em qualquer associação empresarial e muitos, muitos almoços e jantares emproados -só a soma de gastos com esse turismo já pagaria muitos milhares de casas populares ou lotes para sem-terra.
E não só no primeiro escalão é assim. Ainda há pouco foi constatado que a secretária dos Direitos da Cidadania recebe diárias de viagem para ir a São Paulo passar os fins-de-semana com a família. Luiza Nagib Eluf cuida muito da sua cidadania, mas em relação às demais é acusada de retardar verbas desnecessariamente. O segundo escalão se esparrama no lazer das verbas públicas.
E não é só o dinheiro dos ministérios "sem verba" que cobre os esbanjamentos. Volta e meia as estatais são obrigadas a patrocinar gentilezas turísticas decididas por ministros e pelo presidente. O Banco do Brasil, por exemplo, teve de pagar viagens de integrantes de uma ONG de jovens para San Francisco, Estados Unidos. Tão normal, isso, que um dos turistas fez questão de registrar numa rádio, há poucos dias, os pormenores da doação com dinheiro alheio. Era um agradecimento ao autor da ordem dada ao BB: Fernando Henrique Cardoso. O mesmo que considera indispensáveis as demissões em massa no banco, que "já tem até algumas agências falindo". Com o que, além do mais, inventou a impossível falência de agências.
As delegações oficiais em viagens ao exterior são abusos até ofensivos. A delegação oficial ao Congresso Mundial da Mulher está levando à China 40 pessoas. Tem representantes do Comunidade Solidária, do Ministério da Previdência, do Ministério da Saúde, do Ministério da Justiça, até do Ministério do Meio Ambiente. E, como não deixaria de ser, deputadas e senadoras.
Os donatários dos cofres públicos esbanjam muito nos gastos. Mas economizam muito no pudor.

Vale a decisão
O cardápio servido por Fernando Henrique não foi suficiente para anular, à noite, a decisão tomada na tarde de anteontem pela Comissão Executiva do PFL. Embora a ausência tranquilizadora de Antônio Carlos Magalhães, o comando pefelista saiu do jantar palaciano com a disposição intocada de fazer modificações fundas na suposta reforma tributária proposta pelo governo. E de não mais o aguardar para pôr em discussão no Congresso as leis regulamentadoras das reformas constitucionais já aprovadas.
A forma da reforma tributária está em aberto, portanto. Talvez até acabe sendo reforma mesmo.

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