São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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'Camisinha' para dentista é lançada em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma "camisinha" para evitar infecções transmitidas através da caneta odontológica acaba de ser lançada no país. A caneta é o motor de alta rotação empunhado pelo dentista e que faz girar a broca.
A camisinha é uma pequena luva descartável de látex que recobre a caneta e evita que bactérias e vírus passem de um paciente para outro. É uma invenção nacional.
Foi criada por três empresários de Ribeirão Preto (310 km ao norte de São Paulo), netos de dentistas, e está sendo comercializada com o nome de Eureka.
Custa R$ 0,20 a unidade e pode ser encontrada nas lojas que vendem material odontológico.
"O uso dessa barreira reduziu em 99,6% o número de microorganismos presentes na superfície das canetas", diz Sérgio Luiz Salvador, 46, professor de microbiologia oral da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Odontologia da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto.
A pedido dos fabricantes, Salvador testou a camisinha em 97 pacientes. Em todos os casos, a caneta foi antes esterilizada em autoclave, equipamento que elimina microorganismos com vapor úmido a altas temperaturas.
Esterilizada, a caneta foi vestida com o protetor e utilizada no paciente. O material que ficou sobre a camisinha foi depois recolhido, e a quantidade de microorganismos, contada. Segundo o professor, apenas 0,4% dos microorganismos ficaram sobre a caneta.
"A barreira de látex é um cuidado a mais que pode ser adotado", diz Rubens Corte Real de Carvalho, dentista em São Paulo há 25 anos. "Mas o ideal seria a esterilização das canetas."
A dificuldade é que os microrrolamentos das canetas odontológicas comuns não resistem ao calor seco das estufas.
Somente canetas lançadas nos últimos anos não são danificadas com a esterilização por meio de autoclave, equipamento disponível em poucos consultórios.
Além disso, diz Salvador, esse tipo de esterilização é demorado e exigiria várias canetas, o que pouquíssimos dentistas possuem.
"A caneta é a maior fonte de contaminação em um consultório", diz Marco Antonio Abrahão, presidente do Conselho Regional de Biomedicina e "divulgador científico" da camisinha.
Segundo Sérgio Salvador, dentistas norte-americanos estão protegendo suas canetas com película plástica usada para embrulhar alimentos. Outros improvisam um protetor com uma espécie de saquinho plástico.
Marco Abrahão diz que a camisinha já despertou o interesse dos japoneses. Segundo ele, um grupo daquele país solicitou protetores de vários tipos para testes.

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