São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995![]() |
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"Vidas Secas' antecipa Glauber
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Não que o filme que a Cultura exibe hoje, às 22h30, tenha acontecido cronologicamente antes. "Deus e o Diabo", embora tenha estreado em 1964, foi, como "Vidas Secas", produzido em 1963; "Barravento", primeiro longa de Glauber (com dedo de Nelson na montagem), foi lançado em 1962. Mesmo assim, "Vidas Secas", inspirado no romance homônimo de Graciliano Ramos, antecipa tudo o que marcaria o cinema brasileiro dos anos 60. Mais que isso, faz a ponte entre os anos 50 e o Cinema Novo de Glauber. No próprio cineasta pode-se perceber a transformação. É só comparar a crônica carioca de inspiração neo-realista de seu "Rio 40 Graus" (1957) com a saga nordestina de Fabiano (Átila Yório) e sua família de "Vidas Secas". Se o dom à militância permanece constante, a forma de filmar mudou completamente. Impossível, admirando as belas e lânguidas cenas de "Vidas Secas", não classificá-lo -por técnicas e temática- como Cinema Novo, ainda que o cineasta se mantivesse sempre à margem do movimento. Exemplos? Perceba-se o som de carro de boi que precede a passagem da família -a pé, sem boi nem carro-, ou a câmera trêmula que acompanha a corrida da cachorra Baleia, ou a luz estourada da caatinga, ou o diálogo sem nexo de Fabiano e Sinhá Vitória (a memorável Maria Ribeiro), mudos em sua incapacidade de comunicação. Virtuoso e emocionante, "Vidas Secas" é puro Glauber. Antes de Glauber. Texto Anterior: Bomba! Acordei fazendo curva quadrada! Próximo Texto: América Latina é hoje nau de insensatos Índice |
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