São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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Debate reúne domésticas

SUZANA SINGER
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

As empregadas domésticas enfrentam os mesmos problemas em todo o mundo: salários baixos, falta de privacidade, desrespeito dos patrões, dificuldade de relacionamento com outros sindicatos.
São quase sempre negras ou imigrantes, e estão entre os trabalhadores mais mal-remunerados.
Essas foram as principais conclusões de um debate sobre as "trabalhadoras do lar", ontem em Huairou (55 km a nordeste de Pequim), onde acontece o Fórum das Organizações Não-Governamentais, paralelo à Quarta Conferência Mundial da Mulher, da ONU.
O debate atraiu um público de cerca de 60 pessoas.
"No Rio, somos apenas 2.500 sindicalizadas", diz Nair Jane de Castro Lima, 57, presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro, que foi ao debate com uma fantasia de baiana da escola de samba Salgueiro.
"Vim assim porque as representantes da Guatemala e do Peru também estão vestidas a caráter."
Nair trabalhou 37 anos na mesma casa, mas, depois que a "patroa" morreu, optou por ser diarista. "Você ganha muito mais."
Seu sindicato é ligado à Confederação da América Latina e Caribe de Trabalhadoras Domésticas, que reúne grupos de 13 países.
A presidente da confederação, a peruana Aída Moreno, provocou: "Tem tanta gente nesta reunião na China porque milhares de outras mulheres ficaram cuidando de suas casas e famílias".
Violet Gaolebale Senna, da África do Sul, disse que o salário de uma empregada doméstica no seu país é de US$ 7,50 por mês (R$ 7,00). No Brasil, o salário é cerca de R$ 100.
Ela afirma que é um serviço tão barato que "até as negras exploram outras negras".
"É um trabalho feito por negras. O presidente (Nelson) Mandela é o único que tem uma empregada branca", diz.
Linnette Vassell, da Jamaica, disse que as domésticas são sempre negras ou imigrantes.
"Eles são a maioria dos pobres na Jamaica." A representante da Malásia diz que os imigrantes da Indonésia e das Filipinas ocupam esses empregos em seu país.
Mesmo em Bangladesh -onde o primeiro-ministro e o líder da oposição são mulheres-, os problemas são parecidos.
"As empregadas que dormem na casa do patrão trabalham 24 horas e não têm tempo para fazer suas coisas. As casas têm empregadas da mesma religião da família porque um hindu não come a comida de um muçulmano", disse Shamsun Nahar Rahman.
"É muito fácil fazer discurso teórico sobre sexualidade e, dentro de casa, não deixar a empregada receber o namorado no quartinho apertado em que ela dorme", disse Mary Castro, uma socióloga brasileira que se especializou em problemas de empregadas domésticas.

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