São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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Júri de O. J. ouvirá fitas com teor racista

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O juiz do caso O. J. Simpson decidiu que o júri não vai ouvir quase nada das fitas em que um detetive faz declarações racistas.
A defesa do ator e ex-jogador de futebol, acusado da morte da ex-mulher (Nicole Brown) e de um amigo dela (Ronald Goldman), protestou com vigor mas não vai recorrer da decisão.
Os advogados de Simpson esperavam convencer o júri que o detetive Mark Fuhrman, por ser racista, incriminou de modo fraudulento o réu.
Fuhrman foi o policial que encontrou uma das luvas usadas pelo assassino na casa de Simpson. A outra luva foi achada na cena do crime, ocorrido em junho de 1994.
Simpson, que é negro e era casado com uma loira se declara inocente. Ele é a pessoa mais rica e famosa jamais julgada por homicídio nos Estados Unidos.
No seu testemunho ao júri, Fuhrman declarou que não usava a palavra "nigger" (crioulo) para designar negros há dez anos.
A defesa obteve fitas de conversas entre Fuhrman e uma roteirista de cinema feitas depois de 1985 em que ele usa a palavra "nigger" 41 vezes.
O juiz Lance Ito autorizou que os jurados escutem a apenas duas dessas citações para permitir à defesa provar que Fuhrman mentiu.
Mas Ito achou que as outras 39 citações eram "inflamatórias" demais. Dos 12 jurados, 9 são negros. "Nigger" é considerada expressão muito ofensiva entre os negros dos Estados Unidos.
O juiz também não permitiu que os jurados ouçam Fuhrman afirmando que já havia manipulado provas por achar que esses casos nem foram comprovados como reais nem têm ligação direta com o de Simpson.
A decisão de Ito atrasou ainda mais o calendário do julgamento. O júri está isolado do mundo em um hotel de Los Angeles desde janeiro passado.
Dez dos jurados iniciais já desistiram e só há dois reservas ainda à disposição. Ito disse ontem que um dos 12 titulares tem manifestado seu desejo de abandonar o grupo por não suportar mais o isolamento.
O julgamento só vai recomeçar na próxima terça-feira porque este é um fim-de-semana prolongado nos Estados Unidos por causa do Dia do Trabalho, na segunda-feira.
A defesa de Simpson classificou a decisão de Ito como "tola" e "com aspectos de racismo".
Um dos astros do time de 15 advogados que defendem o réu, Alan Dershowitz, acha que as fitas devem ser evitadas como um todo, porque mostrar apenas duas citações aos jurados seria iludi-los.
A promotoria também protestou contra a decisão de Ito por preferir que nenhuma referência à palavra "nigger" fosse mostrada ao júri para que, na sua opinião, isso não o distraísse da decisão sobre o réu.

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