São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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Os católicos e as seitas

A apreensão do Vaticano com o avanço das seitas na América Latina, manifestada em encontro episcopal realizado nesta semana em Petrópolis, encerra uma contradição que vem atingindo a Igreja Católica nas últimas duas décadas.
Sensível aos péssimos indicadores sociais da região, o catolicismo local procurou adaptar sua mensagem às demandas de uma população seriamente atingida pela pobreza e pela desigualdade.
Várias arquidioceses latino-americanas fizeram então a "opção preferencial pelos pobres", recomendada pela Teologia da Libertação. A evangelização passou a ser vista também como um processo de conscientização política das classes menos favorecidas, capaz de mobilizá-las para o combate às ditaduras militares da região e para a superação da miséria social.
Porém, com o forte controle exercido pelo Vaticano sobre movimentos pastorais que lhe pareciam impregnados de marxismo, boa parte dos fiéis ao catolicismo ficou com menos opções para o exercício de seu credo, o que pode ter estimulado a migração para igrejas dissidentes e seitas heterodoxas, cuja eficiência na valorização da religiosidade popular tem convidado mais à fuga da realidade imediata do que à inserção política.
Talvez esteja aí o principal desafio da Igreja Católica no momento: recuperar uma certa dimensão de transcendência que as seitas, bem ou mal, estão conseguindo explorar junto a seus adeptos.

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