São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Estudante de publicidade desenha e compõe rock

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Nivaldo de Siqueira não esquece de 1986. "Foi o último ano em que fui gente".
Em pleno Plano Cruzado, Siqueira perdeu o emprego de modelista em uma confecção no Canindé (região central) e acabou caindo na rua. "Quando Sarney lançou o plano, quem tinha 100 passou a ter 10", diz.
Hoje, vive com um grupo de mendigos na praça Esther Mesquita, em Higienópolis, a cerca de 50 metros de onde mora o presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo.
"Quando o carro dele passou por aqui, no domingo, eu gritei: 'Tá bom demais!'. Ele é um cara legal", diz Siqueira sobre seu vizinho FHC.
Siqueira passa o dia jogando conversa fora e bebendo com um grupo de cinco mendigos que moram na praça.
Sem demonstrar muito interesse, pede para tomar conta de alguns carros que estacionam próximo à praça.
"A razão que eu não saio da rua é que gosto dos meus amigos", diz.
Siqueira gosta de cantar, com gestos exagerados, músicas românticas de duplas sertanejas, como aquela que diz: "Mato esse amor/ou me mata o ciúme".
Tinha um violão, mas afirma que perdeu. Um amigo sussurra que foi quebrado numa briga.
Siqueira também diz compor algumas músicas. Afirma ser de sua autoria um rock chamado "Custe o que Custar".
"O Roberto Carlos também tem uma música com esse nome, mas é lenta. A minha é bem rock and roll", diz.
Siqueira, 48, berra o refrão de sua música, que diz: "Não vou deixar ninguém rir de mim/Nem esse amor chegar ao fim/Yeee, yeee, yeee".
Natural de Potirendaba (440 km a noroeste de São Paulo), Siqueira completou o 2º grau e começou a estudar publicidade numa escola técnica em São Paulo. Orgulhoso, mostra a carteirinha, de aluno, da Escola Panamericana de Arte.
Tem dois filhos, que quase não vê, e uma mulher de quem prefere não falar. "Nós não nos damos bem. Para não ficarmos desentendidos, foi melhor sair cada um para um lado".
(MSy)

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