São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Moradores de rua andam em dupla para se protegerem

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para viver na praça da Sé e no largo São Bento (região central), os moradores de rua costumam se juntar para enfrentar um inimigo comum: o medo de dormir e acabar "duro que nem pedra", expressão usada como sinônimo de ser morto à noite.
Essa solidariedade contra o perigo levou Aparecido Ferreira, 33, e Rogério Stivanello, 19, a andar em dupla pela região central. Apesar de ser mais velho, Ferreira é o protegido de Stivanello, ou "Trovão".
"Sou o cara mais tentado dessa área", diz Stivanello. "Tentado", no vocabulário das ruas, é o sujeito que controla os colegas. O sobrenome vem do pai, que ele diz ser italiano. "Meu pai e minha mãe morreram num acidente de avião quando estavam indo para a Itália", afirma.
Ele conta que o fato aconteceu sete anos atrás e desde então a rua virou sua casa. Nesse período, Stivanello passou um ano e oito meses no Rio de Janeiro. "Lá é muito pior que aqui, todo dia tem arrastão e morre gente."
Stivanello estudou até a 8ª série e pensa em trabalhar. Ele diz que roubaram seus documentos e isso dificulta para conseguir emprego, mesma explicação dada por Ferreira.
"Vivo de pedir dinheiro há quatro anos", conta Ferreira. Ele morava em Guaianazes (zona leste). "Tive que sair de casa porque meu pai e meu irmão dizem que sou bêbado." O cheiro de álcool exala de seu corpo, mas ele diz ser "a maior mentira" a afirmação dos familiares.
Ferreira cursou a escola até a 5ª série e diz que se acostumou à vida na rua. "Estou sofrendo muito, mas um dia isso vai acabar."

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