São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Só teoria é insuficiente, conclui debate

JOAQUIM FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 16 meses e 63 palestras de empresários, professores e especialistas em qualidade de todo o país, a Folha encerrou na segunda-feira passada o ciclo "A Busca da Qualidade Total".
No encerramento, quatro profissionais com formação, atividade e visão empresarial distintas foram chamados para discutir o tema "Os Caminhos da Qualidade". O repórter especial Nelson Blecher coordenou o debate.
Os convidados para o último encontro foram Geraldo Ronchetti Caravantes, professor de pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Francisco Starke Rodrigues, sócio-diretor da Trevisan Consultoria; Luiz Tavares de Carvalho, gerente da área de fabricação de eixos da Mercedes-Benz do Brasil; e Flávio Augusto Picchi, diretor da Picchi Consultoria e especialista em qualidade na construção civil.
Para o professor Caravantes, a reengenharia é uma tecnologia de visão restrita.
Crítico dos programas de qualidade que primam pela ótica da engenharia pura, Caravantes lembrou que todo o trabalho desenvolvido com este fim é inútil se a alta administração não valorizar os recursos humanos e considerar seus colaboradores como elos indispensáveis no processo. "É gente que garante a qualidade", afirmou.
Autor do livro "Readministração em Ação", em parceria com Wesley Bjur, da Universidade da Califórnia, Caravantes disse que muitos administradores, quando planejam melhorar seus processos produtivos, pensam em tudo, mas se esquecem de que o sucesso da empreitada depende da parceria com seus funcionários.
"O colaborador descontente com o salário ou com medo de perder o emprego só conseguirá produzir a não-qualidade, porque as pessoas passam para o produto os sentimentos que vão dentro delas", disse.
A necessidade de pensar na educação para a qualidade e na qualidade da educação foi o alerta de Francisco Starke. Segundo ele, o Brasil, como "negócio", não conseguiria o certificado ISO 9000, porque todos os indicadores sociais são desfavoráveis.
"Um país com 30 milhões (20% da população) de analfabetos dificilmente seria aprovado num teste de qualidade", afirmou.
Além disso, disse, há outras aberrações que dificultam a viabilidade do negócio Brasil. Como exemplo, ele citou a grande distância entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, que no Brasil é de 32 vezes. No Japão essa distância é de apenas quatro vezes.
Starke lembrou ainda dos riscos que a empresa corre se optar pelo que ele chamou de administração por best-seller. "O empresário é bombardeado constantemente por novas teorias administrativas, mas sua atuação não deve ficar limitada à filosofia alheia."
Luiz Tavares de Carvalho chamou a atenção para uma inversão de conceitos que começa a chegar às empresas realmente preocupadas com a qualidade.
Segundo ele, hoje é inadmissível somar custo mais lucro para se chegar ao preço. "Isso é a prática dos defensores do mercado monopolista", afirmou.
O correto é definir o preço (com base no mercado), subtrair o lucro (estipulado pelos acionistas) e chegar ao custo.
"Quando a empresa fizer essa equação e conseguir agradar a todos -colaboradores, acionistas, clientes e a sociedade-, então ela será uma empresa de sucesso."
A filosofia da qualidade, apesar de níveis variados, já abrange todos os setores no Brasil, segundo Flávio Augusto Picchi.
Até a construção civil, disse, apontado como um setor atrasado, já mostra resultados.
"Várias construtoras e suas prestadoras de serviço, grandes ou pequenas, vêm desenvolvendo programas com essa orientação." No Brasil, ressaltou, o tempo para uma empresa obter a certificação é um dos menores do mundo.

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