São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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O dólar sobe ou desce?

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O professor Charles Kindleberger, um dos principais estudiosos dos movimentos cambiais deste século, costumava dizer que quem fica pensando muito tempo sobre desequilíbrio cambial ou se julga capaz de calcular taxas de câmbio de equilíbrio, algo que procuramos talvez desde a Idade Média (tal como a pedra filosofal), provavelmente já está internado pela família para tratar da sua saúde mental.
Nestes últimos dias o dólar voltou a se valorizar em relação ao iene e ao marco. Aqueles que, no começo do ano, julgaram que este seria um ano inteiro de queda livre da moeda americana têm o direito de ficar embasbacados agora.
Mas a pergunta que todos fazem é: daqui para a frente, o dólar sobe ou desce? Quem adivinhar a resposta certa pode ganhar uma fortuna no mercado internacional. Mas, se errar, vai à falência com grande rapidez (e perdendo muito dinheiro).
A recente recuperação do dólar reflete a avaliação dos investidores internacionais de que, no longo prazo, a economia americana continua com grande fôlego, devendo manter-se como o centro do capitalismo internacional.
Já se comentou nesta coluna que o mundo caminha para uma situação em que tanto o dólar quanto o marco e o iene terão crescente aceitação internacional. O próprio barateamento do custo das comunicações internacionais leva a isso.
De 1945 a 1990 o custo de um interurbano internacional caiu de 1,0 para 0,01. Concretamente, para completar transações cambiais grandes no mercado especulativo o chamado custo de transação é, para propósitos práticos, nulo.
Como será viver em um mundo onde tanto o dólar quanto o iene e o marco têm aceitação internacional?
Não será muito diferente do que já é hoje. Talvez seja até um pouco mais emocionante, pois a cada oscilação das principais taxas cambiais os agentes podem se sentir mais pobres ou mais ricos e ajustar seus consumos em função desta variação. Se hoje já é difícil tentar controlar a economia internacional, a tarefa só vai se complicar mais nas próximas décadas.
John Williamson, pesquisador do Instituto de Economia Internacional de Washington, casado com a brasileira Denise Williamson, de tempos em tempos divulga suas estimativas pessoais para taxas que seriam defensáveis perante o mercado.
O professor Williamson calcula que se o dólar estivesse valendo algo em torno de 105 ienes e 1,60 marcos, não se estaria longe do equilíbrio. Evidentemente, isto supõe que os fluxos de capital sejam estáveis, algo bastante duvidoso.
A revista "The Economist", julgando prestar um serviço aos leitores, conclui que pouco se pode concluir sobre o valor da moeda americana!
E joga a culpa nos economistas (que quase nunca concordam...). Anuncia que, dependendo dos fatores que se julguem importantes, o dólar pode subir, descer ou ficar onde está. Novidade nenhuma aqui.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil" (Edusp, 1993).

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