São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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O GURI E O SOL

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 23 anos sem escrever ficção, o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, 69, colunista da Folha, está de volta a ela. Ou quase. Seu novo livro, "Quase Memória", que a Companhia das Letras lança em 21 de setembro, tem um subtítulo importante: "Quase Romance". Mesmo assim, Cony se refere ao livro -do qual o Mais! adianta o capítulo 14 nestas duas páginas- como seu "décimo romance".
Não surpreende. Em todos os romances de Cony o teor autobiográfico é alto. "Não há por onde fugir", diz ele. "Mesmo que você tente não ser autobiográfico, vem uma morrinha e muda tudo." Vide "Informação ao Crucificado" (1961), "Pessach: A Travessia" (1967) ou "Pilatos", seu último e preferido, escrito em 1972 e publicado em 1974. Todos eles transpiram memórias do autor.
"Pilatos" é um marco na vida de Cony -e o motivo que ele dá para não ter escrito ficção desde então. "Só lendo 'Pilatos' para entender por que nunca mais senti necessidade de escrever romances. É um livro de ruptura, radical, escatológico, quase pornográfico. Acho que só o consegui escrever porque estava na época mais feliz da minha vida. Depois dele eu não tinha mais nada que fazer."
"Quase Memória", portanto, só podia ter nascido em uma circunstância extraordinária. Ela surgiu em novembro do ano passado, quando a cadela Mila, por longos anos a melhor companhia de Cony, começou a dar sinais evidentes de envelhecimento. A perspectiva de sua morte expandiu a ternura mútua a um ponto obsessivo. Ela passou a dormir de dia, enquanto ele trabalhava, para ficar a seu lado à noite. Depois não o deixava dormir, emitindo gemidos de solidão.

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