São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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O GURI E O SOL

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para deixar claro a ela que estava acordado, ele decidiu se ocupar de algo. "Como não sei crochê, decidi escrever um romance", conta. Durante seis meses, criador e criatura passaram as noites se vigiando. Se ele parava de digitar o teclado de seu computador laptop, ela se alvoroçava. Ele, por sua vez, atento à saúde dela, lhe administrava doses de Novalgina cada vez mais fortes e frequentes.
Curiosamente, em maio, pouco antes de ele pingar o ponto final do livro, já no último capítulo, ela morreu. "Quase Memória" estava parido e, como epitáfio, Mila ganhou uma crônica lírica na página dois da Folha.
O lirismo -como verá o leitor do capítulo abaixo, que narra com humor e precisão as aulas particulares que o pai de Cony dava a ele- é característica também de "Quase Memória", como havia sido de "Informação ao Crucificado". Mas não é a única, segundo Cony. "O livro oscila entre o lírico e o picaresco, o sarcástico. É uma mistura", diz.
"Você pode dizer que ele é uma autobiografia, uma biografia do meu pai, um romance, um depoimento sobre jornalismo", continua. "Ele é tudo isso." Mas também nada disso. Cony aparece pouco no texto; logo, não é uma autobiografia. Alguns personagens têm nomes trocados ("seria muito cruel citá-los"), outros não; assim, também não é uma biografia factual, nem um depoimento jornalístico. E não há histórias inventadas; portanto, tampouco é um romance.
O universo jornalístico -o pai de Cony também foi homem de imprensa- é, porém, o mais marcante no texto. Cony diz ter se inspirado um pouco em "Isaías Caminha", de Lima Barreto, baseado em lembranças de redação. O sabor de romance é inevitável, pois a era descrita é, segundo ele, a do "jornalismo romântico, quando não havia copidesque, computador ou mesmo carteira assinada". Além disso, na mão de alguns, jornalismo realmente é uma arte. Ou quase.

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