São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Pobres mulheres

Mulheres e preconceito. Essa história é tão antiga quanto a própria história. Um popular dicionário latino-português dá quatro sentidos para o termo "mulier": 1) mulher (em geral); 2) esposa (em oposição a virgem); 3) fraqueza e timidez; 4) homem covarde. Nada elogioso.
Há exemplos piores. Eurípedes, um dos maiores dramaturgos da Grécia, escreveu: "Que a mulher é um flagelo desmedido posso provar; o pai que a gera e cria estabelece um dote a quem a leve, a quem o livre de tamanha praga".
O escritor alemão Thomas Mann sugere que a etimologia de "fêmea" vem do latim "fides minus", ou seja, "aquela que não é digna de fé". Erro grosseiro. A palavra "femina" está associada ao radical "fe-", que se associa à idéia de fecundidade.
Tomaram-se aqui apenas poucos exemplos de como expoentes da cultura ocidental -em que as mulheres hoje mais igualdade encontram- trataram o gênero oposto.
Em outras culturas não-ocidentais a situação da mulher é terrivelmente pior. Não se limita a salários inferiores ou à dupla jornada de trabalho. No norte da África, por exemplo, boa parte da população feminina ainda é submetida à excisão total ou parcial do clitóris para que não tenha prazer sexual.
Em algumas regiões da China, país anfitrião da Cúpula da Mulher, bebês do sexo feminino são abandonados para que morram. Como a China controla severamente a natalidade, os casais preferem ter seus únicos filhos homens, que os ajudam na lavoura e não precisam de um dote para se casarem.
Por mais que a situação de igualdade tenha avançado, o mundo ainda está distante de uma relação de equilíbrio mínimo. Infelizmente, os resultados da Cúpula de Pequim, embora venham a constituir um passo, deverão ser pífios. É muito mais fácil assinar um papel do que mudar culturas milenares.

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