São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995 |
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A bênção
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO - Recebi, semana passada, fax do senador Antônio Carlos Magalhães dizendo-me muitas e más. Eu o chamara de Al Capone verbal, que vende segurança na lei seca da seara política: compra quem quer e precisa.O senador baiano lamenta que Mila tenha morrido e não mais possa me dar conselhos e inspiração. O fato de ter lembrado a maior perda que sofri na vida já me desarmou. Mas ACM foi além: terminou o fax com um "Deus te ajude!" Desde a morte do Nelson Rodrigues, em 1980, ninguém me abençoa. Era mania dele. Sempre se despedia invocando a bênção de Deus -e eu achava que ele não invocava o nome de Deus em vão. Sentia-me realmente abençoado. As desgraças nunca andam sozinhas. Também as graças costumam vir em bando, como as andorinhas. O nosso ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, inaugurou inesperado diálogo com a chamada sociedade. Não a onerou de impostos e vergonhas, simplesmente pediu que Deus nos ajudasse. Pode ser bênção ou maldição -anúncio de coisas terríveis que estão a caminho, que muito nos tornarão dependentes da ajuda do Todo-Poderoso. Prefiro ver as coisas de ângulo favorável. Afinal, não é todo dia que, na selva escura do viver adulto, reencontramos a bênção que nos protegeu na infância. Minha madrinha, por exemplo, sempre me abençoava quando a tarde caía e as luzes da casa eram acesas. O Deus em quem não acredito é testemunha da falta que essa bênção me faz. Embora suficientemente abençoado, nem por isso a vida me correu fagueira e folgazã. Tive aquilo que a mesma madrinha chamava de "abrolhos". Um deles foi a necessidade de ganhar o pão escrevendo sobre assuntos que não me atraem, como a política e os políticos. De qualquer forma, abençoado genericamente por Pelé e especificamente pelo ACM, acho que não merecia tal e tanto mas agradeço e retribuo. Devidamente abençoado, pretendo destrinchar alguns problemas, dos quais o mais antigo e insolúvel é descobrir onde estão os ossos de Dana de Tefé. Vencido esse desafio, o resto será lucro. Texto Anterior: Uma péssima boa idéia Próximo Texto: Dá para entender? Índice |
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