São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Combatendo o racismo

ROSANA HERINGER

No Brasil, falar em racismo significa fazer com que as pessoas aceitem sua existência, não o considerando uma criação de alguns intelectuais ou do movimento negro. Quais são, porém, as estratégias anti-racistas implementadas tanto por organizações não-governamentais quanto pelo Estado?
Organizações do movimento negro denunciam que negros e mulatos são vítimas de más condições de vida, com menores rendimentos e menos acesso à educação. O movimento negro também mostrou-se preocupado com a discriminação vivenciada pelos não-brancos na vida cotidiana.
Mas essas mensagens não foram capazes de criar uma identidade comum entre a maioria da população não-branca no país, já que os negros reconhecem sua condição desfavorável, mas não a consideram necessariamente como fruto da discriminação racial. Outras estratégias destinadas a resgatar valores positivos da identidade negra foram mais bem-sucedidas (valorização cultural, da música etc.).
Uma outra estratégia adotada na última década foi a implementação de ações voltadas para denúncias e apoio, inclusive jurídico, às vítimas de discriminação racial. A eficácia desse trabalho, porém, está muito ligada à dificuldade que a polícia e a Justiça possuem em lidar com esses casos.
Aqui já estamos falando das estratégias anti-racistas relacionadas ao Estado. A mais importante foi a implementação de uma legislação específica. Como ocorre, porém, com outros assuntos da área social, uma lei não é suficiente para mudar comportamentos, não produzindo os efeitos positivos que se imaginava.
Uma outra iniciativa pública foi a criação de diferentes órgãos consultivos destinados a subsidiar a definição de políticas de combate ao racismo, que produziram algumas inovações isoladas.
Os obstáculos a essas iniciativas resumem-se em um aspecto: temos que dar visibilidade ao racismo no Brasil. Ele não pode continuar a ser descrito como "escondido, "invisível, "disfarçado.
As estratégias de combate ao racismo deveriam levar em conta essa necessidade e mostrar, em cada situação onde o racismo se manifesta, a fraqueza de suas razões.
O principal alvo dessa estratégia seria principalmente aqueles que mais discriminam, isso é, os brancos.
Racismo e preconceito têm a ver com mentalidade, comportamentos e costumes. Estas mudanças levam tempo, mas devem ser iniciadas mais cedo ou mais tarde, em alguma hora, em algum lugar.

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