São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Vício em ondas

Num país com pelo menos 23% de analfabetos, o rádio e a TV tornaram-se a principal fonte de "informação". Como "informação" é poder e como os políticos estão sempre atentos ao comportamento do eleitorado, logo viram nas concessões de rádio e TV (que absurdamente nada custam) uma poderosíssima arma eleitoral.
Como a repórter Elvira Lobato mostrou em texto publicado ontem, o ex-presidente José Sarney distribuiu cerca de 30 concessões em seu Estado de origem, o Maranhão. Há indícios de que 16 delas são controladas direta ou indiretamente pela família, por meio de testas-de-ferro. Este, obviamente, não é um problema exclusivo do Maranhão, e nem mesmo do Brasil.
A diferença entre o Brasil e as nações 1º Mundo é que, nestas, ao menos esboçam-se medidas para tentar evitar o monopólio da informação. No Brasil, para obter uma concessão, basta ser um político de prestígio ou amigo de um deles. A pessoa que obtém a concessão pode nem mesmo ter a menor condição de colocá-la para funcionar, mas pode "vendê-la" numa espécie de mercado secundário.
Quaisquer medidas que visem a impedir a concentração dos meios de comunicação nas mãos de um grupo são obviamente imprescindíveis. De outra forma, o desejável amadurecimento político do país torna-se uma meta de realização bastante distante.
Propostas como a do ministro Sérgio Motta de realizar licitações para as concessões -e cobrar por elas-, embora não resolvam de vez o problema, podem ser um excelente primeiro passo.

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