São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995 |
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Apenas inescrupuloso
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO-Encerro, com esta tréplica, a micropolêmica com Luís Nassif em torno de Fernando Collor. Não por gosto (polemizar é até divertido). Mas por inutilidade. Há, entre nós, duas divergências conceituais insanáveis.A primeira está no próprio título da coluna de ontem de Nassif, "O estadista inescrupuloso". Para o meu gosto, é uma contradição em termos. Ou se é estadista ou se é inescrupuloso. Comparar Collor ao francês Mirabeau, como fez Nassif, só mesmo como, digamos, licença poética. Um foi inescrupuloso no passado. Collor o foi no passado (como prefeito de Maceió e governador de Alagoas) e no presente (como presidente). Aceitar a falta de caráter em um homem público equivale, no limite, a aceitar slogans do tipo "rouba, mas faz". Não é o meu preferido. A segunda divergência conceitual está na definição de modernidade. Nassif parece achar que "a religião da produtividade", política cambial, privatização, abertura da economia etc. resumem a modernidade. Cabe, em primeiro lugar, observar que, ao contrário do que escreve Nassif, tais temas não estavam ausentes da agenda brasileira na época da campanha de Collor. O então ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, não falava de outra coisa. Se não foi além das palavras é porque fazia parte de um governo moribundo. O candidato Mário Covas, no seu discurso mais comentado, falava de "choque de capitalismo", que não era outra coisa se não a modernidade como a entendem Nassif e as correntes de pensamento hoje predominantes. Mas não adianta levar a discussão por esse caminho porque ninguém jamais vai poder saber, por exemplo, se Covas, eleito, aplicaria o tal "choque de capitalismo". O importante é que modernidade vai muito além disso. Ao menos em um país como o Brasil, modernidade é reduzir a miséria e a obscena desigualdade social, mais ou menos na linha do que escreveu também ontem o ex-ministro João Sayad nesta mesma Folha. Collor não deu um único passo nessa direção. Foi apenas inescrupuloso. Texto Anterior: Jaborandi Próximo Texto: Descobrindo a criança Índice |
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