São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Excluídos e perdedores

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO-Ausência ou deficiência do policiamento, crescimento do consumo de drogas, facilidades para se adquirir armas, falta de escolaridade.
Esse mix, segundo o vasto material publicado pela Folha no domingo, compõe o ambiente no qual se propaga a violência no mundo moderno.
Mas o item de maior relevância e que é apontado como o de maior influência no recrudescimento da violência é a desigualdade social.
Quando se quer entender um pouco melhor o crime enquanto manifestação de violência -o roubo, o assalto, o sequestro, a invasão do domicílio, o homicídio- deve-se sempre -e assim apontaram os especialistas ouvidos pelo jornal- trafegar pelo aviltante terreno da má distribuição de renda, da desigualdade e da ausência de perspectiva daqueles que só vêem como saída para seu drama a apropriação indevida do bem de outro, seja lá quem for.
No meio desse debate, o que mais chamou a atenção foi a perspicaz observação do psicólogo britânico Oliver James, feita em Londres ao repórter Otávio Dias. Para ele, a "razão fundamental" do crescimento da violência em todo o mundo é a desigualdade social e seu reflexo no ambiente familiar.
Como estímulo detonador das ondas de violência, para James, encontra-se a cultura do vencedor versus perdedor. Quem tem dinheiro contra quem não tem. O que "chegou lá" em oposição àquele que não consegue ir a lugar algum e, para usar um jargão pátrio, resolve partir para a ignorância.
Como exemplo inquestionável do que ocorre onde há muita em contrapartida a onde há pouca violência está a maneira como uma pessoa de poucas posses é tratada em ambientes digamos mais civilizados. Ela será sempre um ser menos privilegiado e nunca um perdedor.
A aplicação desses preceitos ao país da "lei de Gerson", onde deve-se levar vantagem em tudo, certo?, ajuda a entender um pouco mais o ambiente beligerante que predomina tanto nas ruas do Rio como em Corumbiara.
São os "vencedores" e os "perdedores" em pleno exercício de sua pseudocidadania.

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