São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Família controla Globo e SBT no SE

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas famílias dominam as comunicações no Estado de Sergipe: a família Prado Franco, do governador Albano Franco (PSDB), e a do ex-governador João Alves (PFL).
Nenhum outro Estado possui tal concentração. A família Franco comanda, simultaneamente, a TV Sergipe -afiliada da Globo- e a TV Atalaia, afiliada do SBT.
Isso significa que a família controla a primeira e a segunda maiores emissoras em audiência.
A terceira TV comercial do Estado -TV Aracaju- pertence ao ex-ministro e ex-governador por dois mandatos (1983-87 e 1990-94) João Alves, cuja família tem mais duas rádios na capital e duas no interior.

Concentração
Existem apenas 33 concessões para radiodifusão no Estado, e pelo menos 20 delas pertencem a políticos. Três dos oito deputados federais por Sergipe aparecem no cadastro do Ministério das Comunicações como sócios de emissoras de rádio.
Cleonâncio Fonseca (PPR) é sócio de uma FM no município de Boquim. José Teles Mendonça (PPR) tem uma rádio AM em Itabaiana, e Jerônimo Reis (PMN) tem uma FM no município de Lagarto.
O vice-governador, José Machado (PFL), possui uma rádio FM em Itabaiana. Existem mais cinco rádios no interior do Estado em nome de prefeitos e ex-deputados.
As concessões pertencentes à família do governador Albano Franco são antigas, e as de João Alves foram dadas durante o governo José Sarney (1985-90), do qual ele participou como ministro do Interior.
Segundo levantamento feito por Paulino Motter, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas e professor da Universidade de Brasília, João Alves recebeu sua primeira concessão de rádio -Rádio FM Jornal, de Propiá- em fevereiro de 86, quando exercia seu primeiro mandato como governador.
Um mês depois, recebeu concessões das rádios AM e FM em Aracaju e da emissora de TV.
Em setembro de 1988, já como ministro do Interior, obteve a concessão da Rádio Jornal Estância (FM), no município de Estância, que foi registrada em nome de suas filhas Maria do Carmo e Maria Cristina.
"Recebi e não nego", disse João Alves, em entrevista à Folha, por telefone. "Não vejo nada de errado nisso e não vou tapar o sol com a peneira", acrescentou.

Dúvidas
João Alves não acredita que o governo de Fernando Henrique Cardoso consiga mudar os critérios de concessão de radiodifusão a partir do projeto encaminhado, na semana passada, ao Congresso Nacional.
O projeto enviado pelo Ministério das Comunicações ao Congresso prevê licitação pública para todas as concessões na área das telecomunicações, inclusive para radiodifusão.
A proposta prevê que, nas cidades com menos de 300 mil habitantes, seja fixado um preço para a concessão e que a escolha recaia sobre o melhor projeto técnico.
Nas cidades de porte médio, prevê-se um critério misto de preço e pontos técnicos. Nas grandes cidades, com população superior a 700 mil habitantes, vencerá o que oferecer maior preço pela concessão.

"Tucano na Cabeça"
"É um projeto cheio de pruridos de tecnicidade, mas escreva o que eu digo: no final, vai dar tucano na cabeça. Na hora da decisão, serão escolhidas pessoas do PSDB ou de partidos aliados do governo", declara João Alves.
Na avaliação de João Alves, tido como um dos políticos mais influentes e poderosos do Nordeste, "poder é sempre poder, e até o Partido dos Trabalhadores acabaria favorecendo seus correligionários se estivesse no governo".
Atualmente, João Alves e Albano Franco são aliados políticos, mas, em 1982, quando ele concorreu pela primeira vez ao governo do Estado, eram adversários.
Ele diz que, naquela época, quando não possuía nenhuma emissora de rádio ou TV, sentiu na pele a importância da radiodifusão nas campanhas eleitorais. "Não apareci em nenhum programa de televisão", afirma.
Hoje, segundo João Alves, as rádios de interior perderam parte da importância que tinham como veículo das campanhas eleitorais, mas televisão e jornal permanecem como armas fundamentais, "porque, neles, os donos veiculam as notícias que querem".

"Analfabeto sabido"
No entender de João Alves, a onda dos programas de rádio com participação do público forçou uma democratização das emissoras do interior.
"O povo do interior do Nordeste pode ser analfabeto, mas é sabido. Quando está insatisfeito, liga para as rádios, nos programas ao vivo, e critica deputados, governadores e até o presidente."
João Alves defende a distribuição de rádios do interior para políticos, afirmando que, se não fossem eles, "90% do municípios do Nordeste não teriam rádio".

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