São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Explosão de insensatez

A explosão de uma bomba nuclear pela França anteontem foi uma deprimente demonstração de prepotência. Com sua atitude, o governo do presidente Jacques Chirac colaborou para aproximar o país símbolo da democracia de uma das últimas ditaduras de partido único entre as grandes nações do mundo. A China é atualmente a única companheira da França na realização de testes nucleares.
A escolha do Pacífico Sul como local da explosão torna a atitude francesa ainda mais hipócrita. Ao contrário do que dizem os maiores especialistas, o governo francês declara que não haverá danos ao meio ambiente. Mas foi realizar seu experimento praticamente do outro lado do planeta.
Não há como separar tais explosões das cenas dramáticas de Hiroshima e Nagasaki ou do terror permanente da Guerra Fria. O arrefecimento da corrida armamentista foi um dos grandes ganhos da humanidade com a distensão militar que se seguiu à derrocada do bloco soviético. Também nesse sentido, a decisão do Palácio do Eliseu vai na contramão da história.
A tentativa francesa de firmar a grandeza da nação pelas armas nada mais é do que uma prova de fraqueza. Não é de hoje que governos incapazes de responder satisfatoriamente a problemas internos -e o desemprego aflige fortemente a França- apelam para o chauvinismo nacionalista, do qual o militarismo é o símbolo preferido.
Insensível a protestos da população, a críticas internacionais, de grupos ambientalistas e cientistas do mais alto prestígio, o governo da França optou pela insensatez.

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