São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Como há 70 ou 170 anos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO-Dá um certo desânimo mergulhar na leitura de "Uma História Diplomática do Brasil-1531/1945", lançado faz pouco pela Civilização Brasileira.
Não pelo livro em si, que é um belo trabalho do historiador gaúcho Ricardo Seitenfus, que, ainda por cima, pôde se utilizar dos textos de José Honório Rodrigues, reunidos por sua viúva, Lêda Boechat Rodrigues.
O desânimo vem de se verificar que passam os anos (e põe anos nisso) e muita coisa no Brasil continua igual. Exemplo: a tentativa de comprar simpatias no exterior por meio de concessões que os tupiniquins acreditam ser do agrado das potências.
O livro relata o que pode ser considerada a primeira missão do Brasil independente no exterior, conduzida, em 1822 (o ano da independência), pelo marechal-de-campo Felisberto Caldeira Brant Pontes. Objetivo: o reconhecimento da independência.
Na volta ao país, a impressão de Caldeira Brant "era a de que o Brasil poderia fazer duas concessões de valor para obter, da Inglaterra e da França, o reconhecimento: a abolição do tráfico (de escravos) e a redução dos direitos alfandegários de 24% para 15%".
Faz, pois, 173 anos que esse tema das tarifas alfandegárias funciona como miçanga às avessas. É concessão dos bugres para agradar o homem branco.
O segundo exemplo é algo mais recente, mas não muito. Data de 1925, faz portanto 70 anos. O secretário-geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Albert Thomas, vem ao Brasil e diz que é o país sul-americano que lhe pareceu "o mais atrasado do ponto de vista social e político".
Acrescenta que o então representante brasileiro em Genebra, sede da OIT, dissera que não havia no Brasil nenhuma criança nas fábricas. "Eu pude fazer constatações absolutamente inversas", retruca Thomas.
Pois é. Setenta anos depois, o Brasil continua tendo problemas com a OIT em torno do trabalho de crianças. A única coisa que mudou é que o representante brasileiro já não nega o óbvio.
Com mais 70 anos, talvez se resolva a questão.

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