São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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Ainda a modernidade

LUÍS NASSIF

Há confusão de conceitos quando se mistura modernidade econômica com questões sociais. De repente, parece que o Brasil perdeu a vocação social no dia em que resolveu modernizar sua economia -não antes disso. Como se até 1990 o modelo político e econômico fosse socialmente legítimo.
Até hoje, a interferência do Estado no campo econômico, a pretexto de cuidar do social, serviu apenas de álibi para a perpetuação da miséria e para o controle político do próprio Estado por gerações de oligarcas e de corporações.
Modernização da economia não é condição suficiente para combater a miséria social. Mas é essencialmente necessária. Pode-se modernizar a economia e manter-se o apartheid social. Mas sem a modernização da economia, não haveria a menor condição de um dia se começar a praticar políticas sociais eficazes. Simplesmente porque a capacidade de geração de empregos e de pagamento de tributos ocorre com economias dinâmicas, não com um cartório estagnado.
Em que a modernização da economia foi anti-social? No desmantelamento da rede assistencialista do governo? Pois essa rede servia exclusivamente para o exercício do poder político pelos Joões Alves da vida e para a montagem de esquemas de assaltos contra o cofre público.
Pode-se argumentar que a bandeira da eficiência, levando à reestruturação de empresas, significou a demissão de milhares de trabalhadores. Qual seria a alternativa? Para manter a mesma estrutura de emprego anterior, haveria a necessidade de conservar a economia fechada, preservar os cartórios criados ao longo das últimas décadas, esquecer a informática, abrir mão de qualquer veleidade de dispor de produtos competitivos internacionalmente.
A manutenção desse modelo conduziria a quê? A um projeto de país pastoril, sem automação, sem informatização e sem capacidade de gerar empregos adicionais; com o meio político convencional definindo subsídios, ajuda a amigos e destinação das verbas do BNDES.
Deve-se brigar cada vez mais para arrancar do governo -e das empresas- uma política de emprego, algo que dona Dorothea Werneck deveria estar trabalhando há tempos. E, principalmente, metas sociais mais explícitas.
Mas jamais imaginar que a salvação do social estaria na ressurreição do velho modelo patrimonialista.

Sacrifício parcial
Em meados de maio, sob o título "A falácia da demanda agregada" a coluna antecipou que essa política creditícia estúpida provocaria dois efeitos distintos na economia. Setores com acesso a capitais externos iriam buscar recursos lá fora. Assim, todo o peso da restrição creditícia recairia exclusivamente sobre os endividados e os mais fracos.
Os dados de agosto demonstram que, com todos os problemas, a indústria automobilística está se safando da crise com crédito externo, ao mesmo tempo em que milhares de pequenas empresas continuam quebrando por absoluta restrição de crédito.

Bancos
O Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte escreve à coluna, negando que houvesse espalhado boatos sobre saúde financeira de instituições financeiras, por meio de seu carro de som.

Usiminas e Acesita
Leitores escrevem à coluna aceitando que a Usiminas manteve seu compromisso com o social, mas denunciando práticas anti-sociais da Acesita, outra siderúrgica mineira privatizada. Esta terceirizou parte de seu fornecimento de gusa, jogando na mais completa informalidade o setor em Minas Gerais.

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