São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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França quer parceria nuclear na Europa

MARCELO MUSA CAVALLARI*

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

A França propôs à Alemanha que seu arsenal nuclear seja usado coordenadamente pelos dois países. "Acho uma idéia interessante, temos que conversar sobre isso", disse Klaus Kinkel, ministro das Relações Exteriores da Alemanha.
A proposta foi feita pelo premiê Alain Juppé durante um fórum internacional no Instituto de Estudos de Defesa Nacional em Paris. A idéia é que o arsenal nuclear da França forme a base de um sistema de segurança da UE.
A Alemanha não tem armas nucleares e se comprometeu em 1954 a não tê-las nunca. O Partido Verde alemão denunciou a oferta francesa como uma forma de a Alemanha ter acesso a armas nucleares sem romper formalmente seu compromisso.
Não é a primeira vez que a França propõe que o seu arsenal substitua o chamado guarda-chuva nuclear dos EUA na proteção da Europa. As armas nucleares são a chave dos sistemas de defesa de todas as potências. EUA, Rússia, França, Inglaterra e China têm bombas atômicas. O arsenal americano responde pela maior parte da força da Otan.
Desde o fim da Guerra Fria a França tem defendido o fortalecimento do que chama de "pilar europeu" da organização, para diminuir a dependência do continente às decisões americanas . Seu arsenal serviria de base para um sistema europeu independente.
A Alemanha é o principal aliado a ser conquistado para essa política, e, agora, a oferta foi feita diretamente a Bonn.
Sem armas, os alemães parecem confiar mais em Washington do que nos vizinhos franceses. A desconfiança é mútua. No mês passado, em meio à controvérsia sobre os testes de Mururoa, o chanceler francês, Hervé de la Charette, citou como justificativa para uma França forte as três invasões alemãs que o país sofreu desde 1870.
Apesar da gafe, é no "núcleo sólido" da União Européia que a França acredita que estão as maiores chances de que seu projeto vá à frente. Núcleo sólido é o grupo de países que poderiam se unir mais rapidamente que os demais da União Européia, de acordo com uma proposta do Partido Democrata Cristão alemão feita em 93. Incluiria França, Alemanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
O teste em Mururoa visa mostrar ao "núcleo sólido" que a França não só tem capacidade de manter um arsenal como está disposta a não ceder o direito de decidir sua estratégia.

Com agências internacionais

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