São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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Ex-burocrata acumula oito rádios e cinco TVs

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os políticos não foram os únicos favorecidos com as concessões de rádio e TV distribuídas até 1990. Membros do governo, empresas de comunicação e jornalistas próximos do poder também foram aquinhoados.
O maior exemplo de que a alta burocracia se aproveitou da avalanche de concessões no governo José Sarney (1985-90) é o ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Rômulo Villar Furtado, proprietário de oito emissoras de rádio e de cinco de TV.
Furtado, foi por 16 anos o segundo homem na hierarquia do Ministério das Comunicações (1974-90), como secretário executivo, é sócio de uma emissora de TV no Estado do Rio e dono da Rede Rondovisão, de Rondônia, composta de oito rádios e quatro emissoras de televisão.
O nome de Villar Furtado não aparece no cadastro do Ministério das Comunicações como titular de nenhuma emissora em Rondônia, mas o fato é assumido nas propagandas institucionais do grupo, que usa o slogan "Rondovisão - Organizações Rômulo Furtado".
Em entrevista à Folha, no final de agosto, Villar Furtado recusou-se a falar sobre suas empresas, limitando-se a comentar a trajetória das comunicações no período em que esteve no governo.
Furtado ainda ocupava o cargo de secretário-executivo do ministério quando o então presidente José Sarney aprovou a concessão da TV Lagos -afiliada à Globo- para a empresa Empreendimentos Radiodifusão Cabo Frio Ltda.
Compunham o quadro societário da empresa, além do então secretário, o ex-vice-presidente da estatal Embratel, Cleofas de Medeiros Uchoa, e o deputado federal Arolde de Oliveira (PFL-RJ).
A concessão foi dada no dia 25 de julho de 1988. Villar Furtado só deixou o governo em 90.
O ex-dirigente da Embratel figura no cadastro do governo como sócio de duas emissoras de rádio: Rádio Clube Cidade (FM), em Vilhena, e Rádio Fronteira (FM), em Porto Velho.
As duas fazem parte hoje da Rondovisão, que também inclui as rádios Clube Cidade de Pimenta Bueno (FM), Rolim Moura (AM), Cacoal (FM), Ji-Paraná (FM) e duas emissoras (AM e FM) no município de Ji-Paraná.
A Rondovisão possui também as TVs Allamanda de Porto Velho, Ariquemes, Ji-Paraná e Cacoal, todas afiliadas ao SBT.
Em março deste ano, durante jantar com jornalistas em São Paulo, Villar Furtado afirmou que as emissoras de Rondônia foram dadas à sua ex-mulher, Rita Furtado, ex-deputada federal por Rondônia.
Na ocasião, ele disse à Folha que um dos critérios para distribuição de concessões de radiodifusão no governo Sarney era a escolha de deputados bem votados.
As concessões não foram dadas, oficialmente, à ex-deputada, mas a amigos do casal. Três rádios e uma TV foram registradas em nome de Antonieta Forcione, ex-assessora de Rita.
No jantar com os jornalistas, Furtado fez pilhéria ao ser questionado pela Folha sobre suas emissoras em Rondônia: "Não há ilegalidade alguma no fato de eu possuir as emissoras. E, se é só isso que meus adversários têm contra mim, depois de 16 anos como secretário-executivo do Minicom, estão me dando um atestado de bons antecedentes."
Empresas de comunicação e jornalistas também se beneficiaram com concessões gratuitas de rádio e TV no governo Sarney.
A família Marinho, dona da Rede Globo, recebeu quatro concessões de TV convencional -Sorocaba (SP), São José dos Campos (SP), Foz do Iguaçu (PR) e Resende (RJ)-, ampliando sua rede para 17, e duas de TV por assinatura em UHF (com sinais codificados, só podem ser captadas com pagamento de assinatura): uma em São Paulo e outra no Rio.
O grupo Abril recebeu duas de TV por assinatura (Rio e São Paulo) e a da MTV, em São Paulo.
Na mesma época, Walter Fontoura, diretor da sucursal do jornal "O Globo" em São Paulo, obteve duas concessões de rádio (Sorocaba, SP, e Teresópolis, RJ) e uma de TV por assinatura, em São Paulo. Amigo de Sarney desde 1957, Fontoura era editor-chefe do "Jornal do Brasil quando recebeu as concessões. Ele diz que houve concorrência, mas não nega que sua amizade com Sarney possa ter influenciado a decisão.
O jornalista diz que as emissoras de rádio davam prejuízo e que as revendeu. A TV por assinatura, afirmou, é administrada por seu irmão, Lauro Fontoura, em parceria com a Bandeirantes.

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