São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC aceita suspender privatização do Banespa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central vai oferecer ao governador Mário Covas, de São Paulo, a seguinte alternativa para o Banespa, há oito meses sob intervenção: desenvolver um esforço conjunto de saneamento, deixando-se a questão da privatização provisoriamente em suspenso.
Nessa linha, a atual junta interventora no Banespa, nomeada pelo BC, deve ser substituída por uma diretoria escolhida de comum acordo com Covas, do PSDB.
É uma tentativa de evitar o impasse. Até aqui, o BC vinha condicionando seu apoio à proposta de saneamento do governo paulista a um compromisso formal com a privatização do Banespa.
Covas, de seu lado, tem dito que só aceita participar do saneamento desde que não haja esse compromisso e desde que se garanta que a gestão do banco será devolvida ao governo paulista.
O que se vai tentar agora é um meio-termo. O primeiro passo seria a nomeação de uma nova diretoria. A intervenção, cujo nome oficial é Raet (Regime de Administração Especial Temporária), não pode ser suspensa.
O BC, em qualquer intervenção, só pode suspendê-la se o proprietário do banco, o governo paulista no caso do Banespa, capitalizar a instituição. Como isso não será feito de imediato, não há como suspender o Raet.
Mas é possível nomear uma nova diretoria, com titulares escolhidos por Covas e pelo BC. Essa diretoria iniciaria o processo de saneamento do Banespa.
A idéia do BC é fazer um saneamento por partes, abandonando-se a tentativa de buscar uma solução única e global. Isso é consequência do tamanho do problema.
O governo paulista deve R$ 13 bilhões para o Banespa, e daí decorrem todas as dificuldades do banco. A dívida representa quase um ano de arrecadação paulista com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), sua principal receita.
O governo, portanto, não tem como pagar. Nem como injetar no Banespa, de imediato, os R$ 5 bilhões necessários para o banco readquirir seu equilíbrio financeiro. Hoje, o Banespa toma diariamente empréstimos nesse valor para fechar seu caixa.
Covas havia proposto que o governo paulista tomasse um empréstimo externo, com garantia do governo federal, para capitalizar o Banespa. O BC acha difícil esse empréstimo, nem deseja dar garantias a um volume dessa magnitude.
Mas acredita que o governo paulista pode conseguir empréstimos menores, para os quais teria a garantia do governo federal. Assim, a capitalização do Banespa seria feita aos poucos.
Além disso, o processo de saneamento incluiria renegociação de partes da dívida com o banco, sempre contra garantias a serem oferecidas pelo governo paulista.
Essas garantias podem ser imóveis e hidrelétricas inacabadas. Mas o BC deseja que essas propriedades sejam transferidas não para o Banespa, mas para uma empresa especial, a ser constituída pelo governo de São Paulo.
Essa empresa venderia as propriedades e passaria o dinheiro para o Banespa, abatendo-se a dívida do governo estadual.
Finalmente, seria feito um enxugamento no Banespa, com redução do número de funcionários e fechamento de agências.
Enquanto isso, o assunto privatização ficaria em suspenso. O BC optou por essa linha para evitar o impasse com São Paulo. Não só o governador Covas, mas também a maioria esmagadora das forças políticas do Estado, na Assembléia Legislativa, se opõe à privatização do banco.
Insistindo na privatização já, o BC conduziria o episódio para um impasse e, ao final, seria obrigado a federalizar o Banespa.
Pode fazer isso, pois o Banespa está, tecnicamente, com patrimônio negativo (o que tem a receber é menos do que tem a pagar).
Só que, tomando o Banespa, o BC levaria junto as dívidas e ficaria responsável exclusivo pelo saneamento do banco, antes de privatizá-lo. Pois ninguém compraria um banco com um buraco de R$ 13 bilhões.
Claro que o BC iria cobrar esse dinheiro do Estado. Mas este, tendo perdido o banco, não teria mais qualquer interesse em colaborar com seu rápido saneamento.
Tudo considerado, o BC resolveu adiar a conversa da privatização. Certamente sua diretoria quer, mais à frente, que a conversa volte, talvez até estimulada pela privatização do Banerj, o banco estadual do Rio de Janeiro.

Texto Anterior: Flecha de Lima sofre nova cirurgia cerebral
Próximo Texto: Ex-governador se defende
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.