São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Inserção global obriga fim do improviso

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem que parar de improvisar se não quiser perder a corrida da inserção estratégica na economia global, onde a palavra-chave é competitividade.
A opinião é de Boris Tabacof, diretor-titular do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "A inserção é um processo duro, mas irreversível", diz.
A Fiesp, informa Tabacof, começou na semana passada um estudo em busca de um diagnóstico sobre as implicações para a economia brasileira das mudanças mundiais na área da produção e trabalho.
A discussão é motivada pelo pânico causado pela demissão de 17.659 trabalhadores pela indústria paulista na quarta semana de agosto. A idéia da Fiesp é analisar formas de absorção da mão-de-obra industrial.
"Temos que admitir uma realidade, que é incontornável: o desenvolvimento da competição leva a uma redução estrutural do emprego na indústria", diz.
A estratégia do emprego no Brasil deve ser direcionada para os setores agrícola, porque ainda precisamos ampliar a oferta de alimentos, e de serviços.
O setor de serviços tem uma possibilidade imensa de absorção de mão-de-obra nas área de educação, saúde, segurança, lazer e habitação, onde há um déficit.
O objetivo da Fiesp é contribuir para a definição de uma estratégia para a inserção do país em um cenário internacional onde a globalização da produção cria novos desafios para a atividade empresarial.
A condição básica, reconhece a entidade, é a estabilidade da moeda e a confiança do mercado financeiro no Brasil.
Tabacof acredita que a flexibilização dos monopólios das telecomunicações e petróleo vai atrair recursos e criar novos empregos no país.
O debate, diz Tabacof, significa uma mudança "extraordinária" na mentalidade do empresário brasileiro.
O empresário, afirma, entende agora que o mercado é um mundo onde não há mais espaço para a proteção e a reserva de mercado.
"A visão agora é global e a palavra-chave é competitividade porque a Fiesp considera que o mercado não é mais o Brasil fechado e protegido mas o mundo."
Com relação à visão global do mercado, a Fiesp considera que a sobrevivência da indústria depende da produção em uma escala maior.
A visão de mercado global é a grande mudança mundial na área de produção. Para Tabacof, o Japão é o melhor exemplo dessa tendência.
"O Japão está exportando fábricas já que tem grandes dificuldades de competição a partir de casa, já que a mão-de-obra ficou cara e a moeda valorizada".
As indústrias de papel e celulose e automotiva são dois exemplos dessa tendência no Brasil.
"A indústria de papel e celulose não teria dobrado sua capacidade de produção em dez anos se não tivesse adotado uma visão global do mercado", diz.
Outro ponto do debate na Fiesp -acesso à tecnologia de ponta-, é o que mais preocupa os industriais paulistas.
"A distância do Brasil da tecnologia de ponta em vez de estar diminuindo está aumentando", afirma Tabacof.
(ACS)

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