São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Roubo em Cinemateca do MAM é ignorado

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Roubaram a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio.
"Que azar! Logo no ano do centenário do cinema", dirão uns e outros. Azar em termos.
Na verdade, o roubo ocorreu em 1994. "Como não saiu em nenhum jornal?", perguntarão uns e outros. Simples: o caso foi abafado. E, por força das circunstâncias (ou das conveniências), esquecido. Nenhuma das peças roubadas -pela contagem oficial, nove câmeras e quatro projetores, todos do início do século- foi encontrada. Nem suspeitos o MAM arrolou.
"A autoria intelectual pode ter sido de uma só pessoa, mas o roubo em si foi executado por, no mínimo, duas pessoas", pondera o pesquisador e historiador de cinema Jurandyr Noronha. "Eram equipamentos razoavelmente pesados e não cabiam num veículo qualquer."
Ninguém, salvo, talvez, José Roberto Messias de Moraes, ex-funcionário da Cinemateca, conhecia aquelas peças com tanta intimidade. Noronha, desde os tempos do Museu de Cinema do Brasil, que ajudou a criar para a extinta Embrafilme, na década de 70; Moraes, desde quando a Cinemateca iniciou o serviço de limpeza e conservação do acerto do Museu de Cinema, em meados da década passada.
"O acervo havia sido depositado na Cinemateca, por volta de 1980, mas só a partir de 1984, numa sala do Bloco Escola do MAM, eu pude começar a cuidar de todos os aparelhos com a devida atenção", diz Moraes, que deixou a Cinemateca há três anos. "Desde então ninguém mais mexeu naquelas peças", acrescenta.
O coordenador do arquivo de filmes da Cinemateca, Francisco Sérgio Moreira, confirma. Foi ele quem, por acaso, notou o primeiro roubo. Sim, houve mais de um.
A 8 de julho de 1994, Moreira, que trabalha numa sala contígua à do Museu de Cinema, deu falta de uma câmera Williamson de 35 mm, fabricada por volta de 1910, e comunicou o fato à direção da Cinemateca e à administração do MAM. A 12 de setembro, uma segunda-feira, outro susto: mais nove peças haviam desaparecido no fim de semana. No fim de semana seguinte, três novas baixas: uma câmera Ernemann (modelo Kinette), um tripé da mesma marca e um projetor Bell & Howell (modelo Filmosound).
Num comunicado interno, datado de 19 de setembro, Moreira relacionou o material desaparecido e observou que nenhuma porta da Cinemateca havia sido arrombada ou forçada, nem fechaduras quebradas ou vidros da sala partidos. Conclusão do delegado de polícia Ivo Raposo: "Quem roubou aquilo tudo saiu por onde entrou, ou seja, pela porta da frente, com ajuda da segurança do museu".
Raposo, que além de ser delegado adora cinema, se predispôs a investigar o caso, mas não recebeu dos principais interessados o necessário incentivo. O coordenador de administração e finanças do MAM, Alvaro Lopes, rejeitou a hipótese de que a segurança do museu facilitara o serviço dos ladrões.
Para Raposo, bastaria saber quem estava na escala da segurança nas noites em que os equipamentos foram roubados e interrogá-lo. Nem isso, porém, ele conseguiu saber. Por conta própria, investigou mais um pouco. O máximo que descobriu foram alguns rolos de filmes de 35 mm, à venda numa feira, possivelmente, segundo ele, também roubados da Cinemateca.
"Lamentamos o ocorrido. Foi uma perda enorme e irreparável. Fizemos a investigação possível, mas não descobrimos nada." Oficialmente é isso o que a Cinemateca tem a declarar por intermédio de sua coordenadora, Susana Schild.
"Quem roubou sabia com que estava lidando", assegura Moraes. "Levaram o filé mignon do acervo." Algum suspeito? "Como não existem antiquários especializados nesse tipo de negócio no Brasil, fica difícil investigar. É possível que o material roubado já tenha sido vendido para algum colecionador estrangeiro."
Líquida e certa só uma certeza: a segurança do Museu de Arte Moderna do Rio deixa muito a desejar.

Texto Anterior: China usa remédio há mais de 10 anos
Próximo Texto: Pai do acervo soube por acaso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.