São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Livro alerta para risco de levantar o polegar

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um gesto aparentemente simpático, como levantar o polegar querendo dizer que está tudo bem, pode ter consequências desastrosas.
O recém-lançado "Gestos", do norte-americano Roger Axtell, compila seis diferentes significados para esse mesmo gesto.
Em países tão distantes e diferentes quanto Nigéria e Austrália, o polegar levantado é um insulto pesado, algo como o nosso popular "vá tomar no ...".
Levantado, mas levemente inclinado para a direita, o polegar também serve para pedir carona. Como outros gestos, esse nasceu nos Estados Unidos e foi exportado para quase todo o planeta por Hollywood, ensina o autor do livro.
Mas cuidado: na Turquia, o mesmo gesto pode significar um convite para um encontro gay.
Foi por não saberem disso, escreve Axtell, que três estudantes norte-americanos foram molestados sexualmente quando pediam carona numa estrada entre Istambul e Ancara.
Na Alemanha, o polegar indica o número um, enquanto no Japão ele é sinônimo do número cinco.
Em uma recente visita à terra de seus antepassados japoneses, a cabeleireira paulista Lira Onoda, 27, descobriu que o polegar para cima pode ter ainda um sétimo significado.
"Me falaram que se uma menina levanta o polegar para um cara solteiro, ela está perguntando se ele tem namorada. Se você não sabe disso, é um perigo. Você levanta o polegar querendo dizer 'tá tudo jóia' e o sujeito começa a pensar que você está querendo sair com ele."
O músico Alberto Marsicano descobriu na Índia um oitavo significado para o gesto do polegar levantado. Em uma de suas idas a Calcutá, Marsicano levou uma dezena de camisas da seleção brasileira de futebol para trocar por seda.
Um comerciante se interessou pelo negócio, mas a coisa quase foi por água abaixo quando Marsicano levantou o polegar.
"Ele fechou a cara, achando que eu tinha desistido do negócio", relata o músico.
"Manual de sobrevivência para enfrentar a globalização", como diz o seu subtítulo, "Gestos" traz um resumo da experiência pessoal de Axtell, que foi vice-presidente da Parker (fabricante de canetas) e passou mais de 28 anos viajando pelo mundo.
Em suas passagens pelo Brasil, Axtell não teve dificuldades para perceber que os brasileiros gostam de se tocar muito mais que os europeus ou os norte-americanos.
O autor se surpreendeu ao notar que o gesto da figa é sinal de boa sorte no Brasil. Ele conhecia apenas os sentidos fálico e ofensivo do gesto, usado em países como Grécia e Holanda.
Fugindo do tema de seu livro, não resistiu e observou que dirigir um carro no Brasil é uma "experiência rara -e muito arriscada".
Como tantos estrangeiros, ele também não demorou a descobrir que o famoso gesto de OK (o polegar e o indicador unidos, formando um círculo) aqui significa um palavrão.
Justamente por isso, o norueguês Jan Fjeld, 35 anos, há 11 no Brasil, foi motivo de piada em sua primeira semana no país.
"Só sabia falar 'obrigado', 'tudo bem' e 'é isso aí'. Fui almoçar na casa de uma amiga e, quando vi a comida que a mãe dela estava preparando, fiz o gesto de OK. Todo mundo riu de mim."
Como Axtell, Fjeld também se surpreendeu com a extrema facilidade que os brasileiros têm para se tocar, dar tapinhas nas costas e se cumprimentar quando se encontram.
"Achava que todo mundo gostava de mim. Na Noruega só se beija uma vez por ano, no dia do aniversário", diz.

Livro: "Gestos"
Autor: Roger E. Axtell
Preço: R$ 29,60 (258 págs.)

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