São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O drama de John Nash

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

No fim deste feriado prolongado não vamos aborrecer o leitor com um artigo pesado. Mas há um drama humano, o de John Nash, prêmio Nobel de Economia em 1994, que há algum tempo vinha desejando comentar.
John Nash é um dos mais importantes matemáticos e economistas deste século; na universidade de Carnegie-Mellon (Pittsburg) chegou a ser chamado de o "novo Gauss. Nash ganhou o Nobel como economista mas, entre os matemáticos, muitos acham que alguns de seus trabalhos da juventude são até mais importantes.
O Nobel de Economia foi atribuído a Nash porque aos 21 anos de idade ele definiu matematicamente o que se chama de "equilíbrio de Nash (um equilíbrio em que dois competidores aceitam um certo resultado pois uma ação de um dos dois pode conduzir a um resultado pior para ambos).
Nos últimos dez anos o nome de Nash sempre frequentou a lista dos que eram premiáveis pelo Nobel. No entanto, por prudência, a Academia de Ciência de Estocolmo não lhe conferia o prêmio pois há quase duas décadas Nash está acometido de esquizofrenia incurável.
O tipo de esquizofrenia de Nash geralmente se manifesta ainda na juventude ou um pouco mais tarde, na casa dos 20 anos. O matemático John Moore afirma que a doença tornou Nash um homem triste, uma inteligência rara escurecida pelo desequilíbrio mental.
Uma heroína todo este tempo foi Alicia Nash, a esposa de Nash, em cuja casa ele vive (embora Alicia tenha se casado novamente).
Gian-Carlo Rota, matemático italiano do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT), que está escrevendo um capítulo biográfico sobre o jovem John Nash, avalia que os resultados obtidos por Nash em sua tese de doutoramento de 1948 eram tão novos que demorou todo este tempo para que fossem plenamente compreendidos.
Novamente, por excesso de prudência, o Nobel não foi atribuído só a Nash (que não poderia discursar no jantar de gala, quando os prêmios são entregues), mas foi dividido com John Harsanyi, da Universidade de Berkeley, e Reinhard Selten, da Universidade de Bonn (Alemanha).
É desproporcional a importância de Nash (cujo nome é encontrado em qualquer livro-texto médio no capítulo sobre a teoria dos jogos) e a dos outros dois. Este prêmio, inquestionavelmente, é de John Nash.
Alicia Nash acredita que, vivendo perto de Universidade de Princeton, e em contato permanente com os matemáticos desta universidade, John não piorou porque ser um pouco lunático em um lugar onde tantos passam tanto tempo estudando é relativamente aceito. Martha Legg, irmã de Nash, apóia Alicia neste aspecto.
A premiação de John Nash marca o fim de uma luta apaixonada de alguns de seus ex-orientandos. Alguns nomes conhecidos como Harold Kuhn, Albert Tucker (velho professor dos dois), John Moore e quase todos os departamentos de economia importantes dos Estados Unidos pressionaram para que o Nobel ficasse com John Nash.
Não há um "happy ending para esta história. Uma esquizofrenia incurável como a de Nash ainda é pouco compreendida. Após quase 30 séculos em que se estuda a vida humana, pouco se sabe sobre muitos dos nossos principais males.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil (Edusp, 1993).

Texto Anterior: Boa aparência
Próximo Texto: Constituição explica salário-família de apenas R$ 0,83 por filho menor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.