São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995 |
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A recessiva venda recorde
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
Recessão com vendas recordes de carros e eletrodomésticos. Tem desemprego, mas cresce a massa salarial. O Plano Real distribuiu renda. Tanto que -e é inegável- o padrão de consumo cresceu. E continua maior, mesmo hoje, do que o que prevalecia em, por exemplo, maio de 1994. Qualquer plano ancorado no câmbio distribui renda, é expansionista. Mas o México quebrou em dezembro, enquanto o Brasil, um iniciante nessa história, vivia o Natal da década e dos importados. Com as torneiras de dólares fechadas, restou ao governo, para fazer sobreviver a âncora, reduzir o consumo e frear a economia. O governo não dispunha do instrumento mais apropriado para fazê-lo -que é o fiscal. Usou os juros altos e o enxugamento do crédito. Enfim, e esse é um problema dos instrumentos, o freio utilizado não tinha a sofisticação de um ABS. O carro da economia foi parado, travando rodas -não todas-, aos trancos. Quem tinha ou tem acesso a crédito externo (com juros civilizados) escapou. Quem soube "casar" o chamado fluxo de caixa (renda, salários etc.) com os gastos, sem aumentar o endividamento, escapou. Quem não tinha ou não soube hoje paga a conta, mas é chamado de inadimplente. Mas há ainda um outro processo em curso: o dos estoques. Há um problema físico aqui: a inércia, a resistência em modificar o estado de movimento. Esse fenômeno fica visível nas importações. As vendas de carros apontaram para baixo em março, as importações caíram em finais de julho. O Porto de Vitória é o espelho da inércia. Se sobraram importados (e não só carros), coube ao chamado produtor local a parte mais dura do ajuste entre oferta e capacidade de consumo. É essa dinâmica que explica um quebra-cabeças que mistura as seguintes peças: demissões nas montadoras e nas indústrias de autopeças, 70 mil carros parados nos portos e vendas recordes de veículos. Em algum momento, os estoques vão se esgotar. E a economia vai crescer. Depois, provavelmente, vamos começar a discutir como enfrentar o excesso de consumo... Será com juros altos? Ninguém mais vai falar em recessão. Hoje, excepcionalmente, LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não escreve esta coluna. Texto Anterior: Desemprego é de 5% e 13% Próximo Texto: Fazendeiro de 4ª geração sonha com agroindústria Índice |
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