São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Engenheiro emperra compra de TV a cabo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O aparente impasse a que chegaram as negociações para a compra pela Time Warner da Turner Broadcasting System realça a proeminência que a TV a cabo passou a ter na indústria cultural dos EUA nos últimos 20 anos.
A união entre o segundo e o nono maiores grupos de comunicação do país, que pode resultar no líder mundial do setor de entretenimento, emperrou por causa de um engenheiro de 54 anos chamado John C. Malone.
Malone é o dono da Tele-Communications, Inc. (TCI), maior empresa operadora de TV por cabo dos EUA, com 11,4 milhões de assinantes.
A TCI detém 21% das ações da Turner, o que não lhe dá direito de impedir o negócio, caso Ted Turner, dono de 63% das ações, queira mesmo realizá-lo.
O problema é que nem Turner nem a Time Warner desejam ter como inimigo o homem que decide a que canais de cabo 18% dos domicílios dos EUA vão ter acesso. Em especial se esse homem for Malone.
Há dois anos, quando negociava preços com os fornecedores de programas, Malone ameaçou tirar do seu sistema a mais popular rede de TV a cabo do país, a ESPN (da Disney), e ganhou a parada.
Time-Warner (dona da HBO) e Turner (CNN, TBS, Cartoon Network) terão dificuldades para sobreviver, mesmo unidas, se a TCI não as colocar em seu sistema.
A TV a cabo é o segmento da indústria cultural que tem obtido maiores índices de avanço em seu faturamento publicitário na década de 90 (passou de US$ 2,8 bilhões em 1991 para US$ 4,6 bilhões no ano passado).
Ela também é o subsetor mais controlado pelo governo. Em 1992, o Congresso aprovou, por pressão dos eleitores e apesar do veto do então presidente George Bush, lei que regula as tarifas cobradas pelos operadores.
A lei, de autoria do senador Daniel Inouye, também obriga os operadores a colocarem à disposição de seus assinantes todas as redes nacionais de TV por sinal aberto e estimula a concorrência entre os exploradores do cabo.
A TV a cabo tem suas origens em 1948, quando algumas comunidades em regiões montanhosas ou distantes com dificuldades para receber o sinal aberto de televisão exigiram algum tipo de solução.
A resposta foi a construção de grandes antenas que captavam os sinal e, depois, o redistribuíam por cabo similar ao telefônico para as casas.
A qualidade superior do sinal começou a provocar o desejo de outras comunidades de também serem ligadas por cabo, o que despertou a imediata oposição das redes nacionais.
A década de 70 foi a da institucionalização da TV a cabo e, a de 80, a da sua explosão. A Lei do Cabo, de 1984, regulamentou a indústria.
Os operadores de cabo são obrigados a manter diversos canais (varia conforme o Estado) para o governo, as escolas e as universidades locais.
Além disso, pelo menos um ou dois canais devem ser reservados para que qualquer grupo da sociedade civil local possa veicular suas mensagens.
Os operadores também mantêm e colocam no ar em todo o país as redes C-Span e C-Span2, que transmitem apenas sessões do Congresso e programas de utilidade pública. A indústria já investiu US$ 180 milhões nesse projeto.
A TV a cabo ainda é utilizada de forma compulsória para os operadores como instrumento de educação no sistema de ensino público do país.
O operador obtém o direito de colocar a TV a cabo nas residências de determinada unidade política por concorrência pública.
O sistema com maior número de assinantes (1,007 milhão) é o de Nova York, operado pela Time Warner. Depois, vem o de Long Island, Nova York (Cable Vision) e em terceiro está o de Orlando, Flórida (Time Warner).
No total, há 11.216 sistemas de TV a cabo em operação nos EUA. O Estado com o maior número deles é o do Texas (868).
Na média, o assinante recebe 45 canais pelo serviço básico, que custa, também em média, US$ 18,86 mensais.
Além desses, o assinante pode receber os canais chamados "premium", pelos quais paga em média US$ 6,00 cada.
Existem ainda os canais reservados para os programas "pay per view", pelos quais o assinante paga cada vez que os assiste.
Em geral, esses programas são vídeos recém-lançados, que custam em média US$ 3,95 (o aluguel do mesmo filme numa locadora vale US$ 3,25, mas o consumidor tem o trabalho de sair de casa e ir pegar o filme na loja).
Também há eventos especiais, como lutas de boxe ou shows, programados para os canais "pay per view", que têm preços bem mais altos.

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