São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Inflação pode cair ainda mais até o final do ano

CLÁUDIO EUGÊNIO
DA REDAÇÃO

Após cinco planos antiinflacionários que fracassaram em poucos meses, o consumidor brasileiro vive hoje uma situação inédita.
O Plano Real já entrou em seu 15º mês e a inflação continua sob controle. O resultado dos principais índices de agosto surpreendeu os economistas. Para os próximos meses são esperadas taxas ainda mais reduzidas e até deflação (queda nos índices de preços). O problema é o cenário recessivo, com ponto nevrálgico no desemprego.
Para o coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Heron do Carmo, a inflação não deve chegar a zero nem ocorrerá deflação nos próximos meses, mas ficará baixa.
"Fica claro que as medidas adotadas no Plano Real foram eficazes e mostram o sucesso do plano nesses 14 meses", diz o economista.
Heron afirma que no curto prazo o governo não deve ter problemas com a alta de preços. "A estabilidade das tarifas públicas (energia elétrica, combustíveis etc.) não deve aumentar o déficit (resultado negativo) das estatais. Existe muita gordura para ser queimada neste setor", declara. E completa:
"Quanto mais tempo durar a queda da inflação, maior pode ser o congelamento dessas tarifas."
Em agosto o IPC registrou alta de 1,43%. Este mês deve ser mantida a tendência de queda e o índice deve ficar em torno de 1%, tornando possível a previsão de uma taxa em torno de 25% para o ano.
Recessão
Para o economista Gil Pace, diretor da GPC Consultores Associados, a queda da inflação é consistente devido à recessão que se instalou no país. "A engenharia montada para a implantação do plano estimulou, induziu e até sugeriu que os agentes econômicos privados aumentassem os preços no máximo permitido pelo mercado", diz ele. Ele afirma que o país pagará um custo muito alto para a manutenção de inflação tão baixa.
"Se a recessão continuar poderemos ter deflação nos próximos meses, mas a economia do país estará quebrada. O governo está transformando o país em um entreposto comercial. Acho que a sociedade brasileira não esperava este resultado do plano. As reformas estruturais são a única salvação, mas depende dos políticos."
José Maurício Soares, coordenador do ICV (Índice do Custo de Vida) do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que as baixas taxas de inflação devem ser creditadas às altas generalizadas que ocorreram antes do plano.
"Os preços foram estabilizados no pico, enquanto os salários pela média. O resultado está sendo sentido agora, quando as pessoas perceberam que o seu poder aquisitivo não acompanhou os preços."
O ICV de agosto foi de 1,84% e deve ficar este mês ao redor de 1% ou 2%. A expectativa de Soares é que o índice continue baixo nos próximos meses. "O grande problema é que os preços estão ainda muito elevados e superam os de países desenvolvidos, onde a população tem poder aquisitivo incomparável com o nosso" afirma.
"As tarifas públicas, se forem corrigidas de forma suave, não devem causar problemas, mas elas não podem ser seguradas de forma artificial", diz Soares.

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