São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Confiança é o motor central das economias

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nos últimos meses algo importante ficou evidente, da crise do México à instabilidade cambial global, passando por crises bancárias isoladas como as da América Latina ou do Japão.
Esse algo é comum a todos esses fenômenos, alguns aliás de proporções catastróficas. A economia contemporânea mostra-se refém de algo que poucos economistas ousaram escolher como "fator causal" ou mecanismo determinante em suas teorias e modelos.
Francis Fukuyama, o célebre polemista que recolocou em pauta a questão do "fim da História" (pelo menos na pauta da mídia), lançou novo livro que fala desse algo: "Trust" (confiança).
Segundo o pensador nipo-americano, o associacionismo é um traço comum a japoneses e norte-americanos. Assim, a trama do tecido social nos dois países envolve os indivíduos em relações de confiança mútua que são favoráveis ao sucesso econômico.
Em resumo: a confiança pode ser mais importante ou condicionar fortemente fatores como "déficit público", "taxa de juros", "fluxo de investimentos diretos". A confiança é decisiva no jogo de dados do desenvolvimento econômico e social.
Recentemente, o movimento é em busca desses capitais. Mas o fato é que nem a Argentina nem, antes, o México conseguiram deslanchar uma onda de investimentos produtivos digna desse nome (ou seja, compromissos de longo prazo e não o nhém-nhém-nhém especulativo de curto prazo).
O economista abstrato imagina modelos de atração e repulsão de capitais internacionais, como se fosse um sistema astronômico, e tenta prever a rota dos cometas.
No mundo cotidiano e concreto dos mercados, um fator decisivo para os fluxos de capitais é justamente a confiança, ou seja, o conjunto de informações e regras que estimulam compromissos de longo prazo. Como um casamento.
Os trustes são conglomerados financeiros, englobando várias empresas sob o comando de uma unidade financeira globalizada. Como toda a estratégia se dá sob um comando financeiro, até mesmo as mais prosaicas decisões sobre compra de equipamentos ou publicidade passam pela peneira das avaliações financeiras.
E nas finanças, confiança é fundamental, essencial, primordial. É o que se viu nos incêndios bancários nas últimas semanas, até no Brasil. E é o que define o futuro do México e da Argentina que, apesar dos pesares, estão sustentando influxos de capital estrangeiro para sustentar o "status quo".
No México o quesito confiança é explícito e tem mediação geopolítica explícita: o Nafta. Há dez meses, muitos viram o mundo desabar com o "terremoto mexicano". O Nafta fez a diferença.
Pacotes de US$ 50 bi não caem do céu. Nem de helicópteros, que é como o ortodoxo Milton Friedman via a oferta de dinheiro no seu modelo ortodoxo monetarista.

Texto Anterior: A Argentina está cansada de Cavallo
Próximo Texto: O fim do país do jeitinho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.