São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Camp volta à moda americana

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O livro sobre o universo de P. T. Barnum retratado por Mathew Brady está fadado ao sucesso: o atual ambiente cultural norte-americano é propício a iniciativas que se enquadrem na volátil definição de "camp".
O conceito se tornou conhecido em 1966 graças ao livro "Against Interpretation", da multivalente Susan Sontag.
Camp é alguma coisa de mau gosto explícito de repente apreciada por alguém reconhecido no seu grupo social como dono de gosto sofisticado.
O romancista Cristopher Isherwood (1904-1986) dizia que "é preciso meditar e sentir intuitivamente o que é camp, como o Tao de Lao Tse".
O maior erro que alguém pode cometer no universo dos adeptos do camp é gostar do objeto de mau gosto errado. E as fronteiras são tênues.
Entre os grandes sacerdotes do camp contemporâneo estão o cineasta Quentin Tarantino (de "Pulp Fiction - Tempo de Violência"), o apresentador de TV David Letterman e a cadeia de lojas de roupas Urban Outfitters.
Urban Outfitters é camp desde a entrada: suas vitrines são estilhaçadas como se tivessem sido atingidas por pedradas. Todas as roupas e bijuterias são cafonas, "kitsch", mas a loja só é frequentada por gente "bem.
Quem se veste na Urban Outfitters em Washington frequenta o bar da moda entre intelectuais, o Andaluzian Dog, na até pouco tempo suspeita e agora segura vizinhança da rua U.
No Andaluzian Dog (Cão Andaluz, referência a um filme de Luiz Buñuel), além de se ouvir música brega e se beber coquetéis dos anos 40, a grande diversão é jogar bingo, com os números cantados por um travesti exagerado, uma drag queen.
No passado recente, o cineasta David Lynch (que ficou famoso em 1980 com "O Homem Elefante", em que o personagem principal poderia ter sido uma das atrações de P. T. Barnum) foi um divulgador do camp.
Antes dele, a fotógrafa Diane Arbus (que, segundo Sontag, mostrou ao mundo com suas fotos de pessoas repulsivas que a humanidade não é uma só) e o pintor Andy Warhol estiveram entre os promotores do camp.
O jornalista Gareth Cook, editor da revista "The Washington Monthly" e estudioso do tema, acha que o camp de hoje é mais cruel e classista do que o de 30 anos atrás, quando Warhol e Arbus lhe davam um certo ar de pureza.
(CELS)

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