São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Festa na Índia expõe contraste

The Independent
De Londres

TIM MCGIRK
EM NOVA DÉLI

Talvez tenha sido o casamento mais extravagante -e vulgar- do século 20. Em Tamil Nadu, uma região paupérrima do sul da Índia onde a seca às vezes obriga os pais a matarem suas filhas ao nascer porque sabem que, anos mais tarde, não terão dinheiro para o dote, a política mais importante do Estado, uma ex-atriz chamada Jayalalitha, acaba de gastar cerca de US$ 32 milhões na festa de casamento de seu filho adotivo.
A cerimônia hindu de dois dias de duração organizada por Jayalalitha -que gosta de ser chamada de A Senhora Visionária, Pilar do Progresso ou, simplesmente, Mãe- não foi exatamente discreta. Quase 300 mil convidados compareceram à festa, e a imponente cidade de Madras foi transformada numa colorida terra de conto da fadas, com palácios de papelão em tamanho natural, fontes e templos decorados com afrescos de bailarinos realizando danças eróticas.
Escoltados por elefantes e cavaleiros fantasiados de guerreiros tâmeis da antiguidade, o noivo e a noiva percorreram em uma carruagem feita de sândalo os cinco quilômetros de tapete de pétalas de rosas.
Um dos convidados, o primeiro-ministro da Índia, Narasimha Rao, recusou o convite. Um político tâmil, Subramanian Swamy, disse: "Se o premiê tivesse ido, teria sido a vergonha nacional".
A festa do casamento pode ter sido divertida para os convidados, cada um dos quais ganhou uma jóia de lembrança, mas foi um inconveniente colossal para os 5,2 milhões de habitantes de Madras que não foram convidados.
O trânsito no centro da cidade foi interrompido durante três dias; boa parte da cidade ficou sem luz para que o ministro-chefe pudesse ligar milhares de lâmpadas montadas especialmente para a festa, e alguns bairros tiveram seu suprimento de água desviado para que os 200 caminhões cheios de flores não murchassem sob o sol.
A rechonchuda Jayalalitha tem multidões de fãs entre os tâmeis, que adoram o cinema. Vários dos ministros de seu gabinete literalmente andaram sobre carvão em brasa para mostrar sua devoção a ela, mas desta vez é possível que a Mãe tenha se excedido um pouco.
O tâmil médio ganha apenas 50 rúpias (US$ 1,6) por dia de trabalho, e ativistas sociais afirmam que trabalhadores menores de idade receberam apenas cinco rúpias por 18 horas diárias de um trabalho perigoso: produzir fogos de artifício para que o Pilar do Progresso pudesse agradar seus convidados com luzes celestiais.
Tradução de Clara Allain

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