São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Teste nuclear pode causar onda gigante

STEPHEN CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"*

O diretor do principal centro de pesquisas oceanográficas do Reino Unido avisou ontem que os testes nucleares no atol de Mururoa (Pacífico Sul) podem provocar uma onda gigantesca que poderia chegar até a costa australiana.
É a primeira vez que Colin Summerhayes, diretor do Instituto de Ciências Oceanográficas, financiado pelo Reino Unido, expressou publicamente sua inquietação com os testes nucleares franceses.
O primeiro teste de ogiva nuclear francesa durante o governo Jacques Chirac aconteceu na última terça-feira. Calcula-se que o próximo vá acontecer em um mês.
Oficialmente, o prazo para encerrar a temporada de testes é maio de 1996, mas o governo, pressionado por uma onda mundial de protestos, admitiu antecipar o fim dos experimentos.
Summerhayes afirmou que existe risco de ocorrer um enorme deslizamento de terra submarino, capaz de liberar radiatividade.
Segundo ele, o trabalho que o instituto desenvolve no fundo do oceano em volta do Havaí e das ilhas Canárias mostrou que ilhas vulcânicas como Mururoa são "inerentemente instáveis e podem sofrer uma rachadura sísmica diante do disparo de um gatilho apropriado", como um terremoto ou uma explosão muito grande.
A rachadura provavelmente provocaria um gigantesco deslizamento de terra submarino, que poderia demolir partes da ilha, criando uma onda gigantesca que poderia danificar instalações costeiras em ilhas vizinhas", disse.
"Um grande deslizamento nas ilhas havaianas provocou uma onda gigantesca que danificou as costas de pontos tão distantes quanto a Austrália", observou.
"Essas ondas viajam distâncias consideráveis pelo oceano antes de sua energia se dissipar. Se ocorresse um deslizamento suficientemente grande, poderia expor parte do núcleo da ilha e liberar produtos da bomba no mar".
Os efeitos de uma contaminação desse tipo dependeriam do tipo de material radiativo que fosse liberado com a explosão.
"Alguns produtos, como urânio e plutônio, são pouco solúveis e possivelmente não se deslocariam para muito longe. O césio poderia se deslocar para mais longe", disse o pesquisador.
Cientistas militares franceses disseram que as explosões nucleares subterrâneas em Mururoa criam um calor intenso que vitrifica as rochas, selando as emissões radioativas dentro de um sarcófago de vidro, eliminando os riscos de vazamentos radioativos.
Summerhayes disse que as pesquisas sobre deslizamentos de terra submarinos são recentes e que é possível que os oceanógrafos franceses não tenham comunicado as descobertas aos militares, que controlam as pesquisas geológicas e oceanográficas em Mururoa.
Summerhayes disse que pesquisas mostram que terremotos fracos podem desencadear deslizamentos de terra bastante grandes.
Ele reafirmou que grandes deslizamentos de terra submarinos representam uma ameaça real à Austrália e à Nova Zelândia.
Corte de Haia
A França disse ontem que vai comparecer à audiência da Corte Internacional de Haia (Holanda) na segunda-feira que julgará pedido da Nova Zelândia para a proibição dos testes nucleares franceses.
O Ministério das Relações Exteriores da França disse que o comparecimento não significa que o país considere a corte tem autoridade sobre os testes, considerados assunto doméstico pelo país.
A corte decidirá se os novos testes franceses podem ser enquadrados em pedido feito pela Nova Zelândia em 1974.
Greenpeace
Em Londres, o grupo ambientalista Greenpeace disse que dois de seus militantes, disfarçados de soldados legionários franceses, estiveram no atol de Mururoa na hora da explosão nuclear. Os dois teriam chegado ao local de caiaque.

Tradução de Clara Allain

* com agências internacionais

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