São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Paz em Angola esbarra na desconfiança

NICOLE GUARDIOLA
DO "EL PAÍS"

Em Angola, em guerra civil há 21 anos e onde 50% da população tem menos de 25 anos, poucos sabem o que é paz. "A guerra terminou", dizem os especialistas.
Apesar disso, o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, queixou-se à ONU sobre os atrasos na chegada dos cerca de 8.000 soldados das forças de paz e sua ação para desarmar os guerrilheiros, dizendo que isso fará "renascer a desconfiança e pôr a perder o trabalho realizado até agora".
Desconfiança é a palavra-chave para falar de Angola, palco de um dos conflitos mais longos e mortíferos da segunda metade do século -que, não obstante, teve pouca cobertura da mídia, por lhe faltar "sex appeal", nas palavras do embaixador norte-americano, Edmund de Jamette.
O partido governista, Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA, de esquerda), e a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola, de direita) desconfiam um do outro.
A população desconfia de ambos, e até mesmo a comunidade internacional, em que pese o cauteloso otimismo oficial, parece haver adotado a máxima de São Tomé: "Só vendo para crer".
E tudo que se vê hoje em Angola está longe de inspirar confiança. Praticamente todas as cidades exibem marcas da violência da última guerra -iniciada depois da derrota da Unita nas eleições de setembro de 1992 e que foi qualificada por seu líder, Jonas Savimbi, como "a mais estúpida de todas".
Os representantes do governo afirmam que a fiscalização da ONU se dirige apenas a eles e que a ONU não faz respeitar o embargo decretado pelo Conselho de Segurança em 1993 ao fornecimento de armas e combustível à Unita.
Os dirigentes políticos de Luanda começam a suspeitar que a estratégia da Unita seja asfixiar economicamente a capital, Luanda, e esperar que uma revolta popular destrua o poder do MPLA ou o obrigue a aceitar uma divisão territorial do país e de suas riquezas.

Tradução de Clara Allain

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