São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Cidades do país sofrem feridas da guerra

NICOLE GUARDIOLA
DO "EL PAÍS"

O aeroporto de Huambo -a Sarajevo africana- é um cemitério de helicópteros e veículos militares carbonizados. Em todos os bairros e ruas da antiga capital do planalto sucedem-se edifícios em ruínas, fachadas e telhados remendados, crateras de bombas.
Soyo é uma cidade-fantasma, repleta de estruturas retorcidas pelo fogo e instalações saqueadas. À primeira vista, Uíge parece intacta, entre colinas vermelhas e verdes e plantações de café e banana, mas a ilusão se dissipa diante de fachadas crivadas de balas. Cuito está em estado ainda pior.
As informações sobre a situação nas zonas controladas pela guerrilha são escassas, para não dizer inexistentes. O acesso a elas é limitado aos jornalistas favoráveis à Unita. As autoridades de Uíge falam em prisões, sequestros e assassinatos perpetrados pelos homens do general Dembo, que controla Negage e sua base aérea, a principal do norte do país.
Nunca a luta pela sobrevivência foi tão dura para os mais de 3 milhões de habitantes de Luanda -três quartos dos quais não têm empregos ou fonte de renda fixa- ou para os funcionários públicos, cujos salários se desvalorizam diariamente em função da alta vertiginosa dos preços.
Quando um capitão, um juiz, um médico ou um professor universitário ganham cerca de R$ 9,00 por mês -ou seis quilos de arroz, feijão ou açúcar, dois quilos de carne ou três de frango-, é fácil compreender a revolta suscitada pelas medidas de saneamento financeiro impostas pelo FMI. "Conseguimos resistir a 30 anos de guerra (a de independência e a civil), mas esta paz nos está a matar", diz um jornalista local.
(NG)

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