São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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'Capacetes azuis' são poucos para impedir luta

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mais nova missão de verificação de cessar-fogo das forças de paz das Nações Unidas em Angola -a Unavem 3- começou com mais otimismo do que as anteriores. Isso fica claro pelo próprio tamanho da força: em vez de grupos pequenos de observadores, agora são cerca de 8.000 homens.
O tamanho do contingente mostra a disposição da ONU de resolver o problema. Mas mesmo uma força dez vezes maior não conseguirá manter a paz no país se os dois lados insistirem em reiniciar a guerra.
Os "capacetes azuis" da ONU, que incluem desta vez tropas brasileiras, estão sendo espalhados por Angola de modo a tentar impedir os choques, como foi feito no ano passado, e, até agora com sucesso, em Moçambique, outra ex-colônia portuguesa com problemas parecidos.
O núcleo da força são batalhões de infantaria de cinco países -Brasil, Zâmbia, Zimbábue, Romênia e Uruguai. Um batalhão é uma unidade com algo entre 800 e 1.000 homens. O restante do contingente inclui soldados de engenharia (brasileiros e indianos), de saúde e de apoio logístico.
Os brasileiros vieram de unidades de vários pontos do país e incluem tropas do Exército e da Marinha (fuzileiros navais). A infantaria veio principalmente do 72º Batalhão, de Petrolina (PE), e inclui uma companhia de serviços (para logística) do 1º Batalhão, do Rio de Janeiro (mais conhecido como "Regimento Sampaio", uma unidade que participou da Segunda Guerra na Itália).
A localização pelo país da tropa brasileira é um exemplo do papel mais diplomático do que militar que têm os soldados das forças de paz. Cada soldado é uma espécie de diplomata. Os brasileiros ocupam cidades tanto em regiões controladas por forças do governo como em áreas em que a guerrilha da Unita é forte.
Essa é uma maneira de a ONU poder mostrar que está sendo imparcial, fiscalizando os dois lados. No caso dos brasileiros isso é particularmente importante. O apoio que o país sempre deu ao governo angolano, incluindo a venda de caminhões militares, sempre fez a Unita desconfiar de brasileiros.
Os batalhões de infantaria terão a delicada missão de resgatar armas e destruí-las. Patrulhas percorrerão as estradas do país fiscalizando o cessar-fogo.
Já as unidades de engenharia deverão colaborar com a melhoria do sistema de transportes do país, reparando pontes destruídas e -o trabalho mais perigoso- retirando minas explosivas espalhadas pelas estradas.
Postos de saúde dos "capacetes azuis" terão a função de cuidar não só do pessoal da ONU, mas também de dar assistência para a população civil -certamente aumentando a simpatia para com as forças de paz, o que não é um objetivo desprezível em um país em que a violência é o cotidiano desde a década de 60.

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