São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
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Países pobres pedem mais dinheiro para resolver problema da mulher

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A Quarta Conferência Mundial da Mulher se transformou ontem em Pequim num palco da disputa entre os participantes ricos e pobres. Os países em desenvolvimento, sobretudo da África, querem aumento da ajuda financeira dos países industrializados, com novos recursos destinados a programas para melhorar a situação da mulher.
A conferência, mergulhada em discussões desde sua abertura, no dia 4, termina na sexta-feira, com a adoção de uma "plataforma de ação".
O documento vai apontar diretrizes para solucionar problemas da mulher em temas como saúde, condições de trabalho, aborto e direito à herança.
Enquanto delegados de mais de 180 países mergulhavam em detalhadas discussões sobre palavras do documento final da conferência, representantes de países em desenvolvimento partiam em busca de dinheiro novo. "Belas palavras vão valer pouco, caso não haja dinheiro novo", declarou a cineasta Maria Dulce Pereira, da delegação do Brasil.
Marie Avemeka, ministra para Desenvolvimento e Assuntos da Mulher do Congo (África) foi mais enfática. "Se os países ricos querem manter seu padrão de vida, devem ajudar os países pobres a escaparem da pobreza. Caso contrário, serão invadidos pelos países pobres; a fome provoca a migração para os países ricos".
Os países em desenvolvimento se reúnem no chamado Grupo dos 77 para obter uma plataforma conjunta. Mas são os delegados africanos que pressionam mais em busca de novos recursos.
Não há cálculos precisos sobre os recursos necessários para financiar programas de combate à pobreza e à chamada "feminização da pobreza", termo usado pela primeira-dama Ruth Cardoso em seu discurso.
Mas Sarla Gopalan, secretária para Assuntos da Mulher e Amparo à Criança da Índia, arriscou um cálculo. Para ela, os países ricos devem destinar no mínimo 0,7% do seu Produto Interno Bruto (a medida da riqueza nacional) para ajudar o desenvolvimento de países pobres.
A União Européia rejeita novas doações e conclama os países pobres a contarem com sua poupança interna e com investimento estrangeiro como fontes de recurso. Argumenta que os países ricos também enfrentam problemas orçamentários.
Os Estados Unidos bateram na mesma tecla. "Está claro para qualquer pessoa que lê nos jornais norte-americanos sobre o atual estado de nossos orçamentos que não teremos recursos adicionais", declarou Donna Shalala, enviada especial da Casa Branca.
Ela mencionou uma possível saída: redirecionar recursos para programas que constem da "plataforma de ação", que deve ficar pronta na sexta-feira. O final das negociações está previsto para amanhã.

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