São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Telê perdeu a chance de picar a mula

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Corro o risco de queimar a língua e de ofender uma imensa legião de torcedores, mas desconfio que foi um mau negócio para o São Paulo manter como técnico Telê Santana.
Depois de cinco anos no clube, o desgaste do treinador é evidente: junto aos dirigentes (que ele derruba como se fossem pinos de boliche), junto aos jogadores (cansados de sua crescente ranzinzice), junto a parcelas cada vez maiores da torcida (cansadas de esperar resultados compatíveis com o poderio do time).
Tudo indica que, para a equipe, seria bom sofrer uma chacoalhada revitalizante, com uma mudança de direção. E, para o próprio técnico, seria ótimo mudar um pouco de ares e começar um trabalho novo com uma equipe nova.
O que mais espanta no caso Telê é a subserviência com que a imprensa especializada se comporta diante do treinador. Jornalistas, comentaristas, apresentadores de mesas-redondas, todos se apressam em comprar a versão ególatra do próprio Telê: se o time vai mal, a culpa é dos jogadores, da violência dos adversários, dos juízes incompetentes, dos campos ruins. O "mestre" nunca erra.
A julgar por suas declarações -que a imprensa subscreve sem pestanejar-, Telê é o técnico que, quando o time ganha, diz a seus jogadores: "Eu ganhei". Quando empata: "Nós empatamos". Quando perde: "Vocês perderam".
Num programa "Cartão Verde", da TV Cultura, realizado logo após a conquista, pelo Brasil, do Torneio da Inglaterra, Telê foi convidado a falar sobre a performance de Juninho, grande destaque da seleção e do certame.
Discorreu então sobre sua própria importância na carreira do jogador: "Fui eu que descobri o Juninho no Ituano. Fui eu que tive coragem de torná-lo titular do São Paulo apesar de sua fragilidade física". Quer dizer: o mérito era todo de Telê, e não de Juninho.
Dirão os eternos defensores do "mestre": "Mas o Telê é famoso por aprimorar jogadores, desenvolver suas potencialidades, fazê-los desabrochar". Pergunto, então: o que aconteceu com Palhinha, que há dois anos era considerado um dos maiores jogadores do país? E com Sierra, que veio do Chile como um craque fora-de-série e hoje é um obscuro reserva? Pelo potencial que tinham, Telê poderia transformá-los em semideuses.
Temo pelo futuro. Esta nova geração de jogadores tricolores, que está sendo queimada como incompetente para justificar os maus resultados do time, não é incompetente coisa nenhuma. Tem jogadores de primeira linha, como Juninho, Gilmar, André, Pavão, Caio, Denílson...
Será que é tão difícil montar um grande time com essa moçada, mais um goleirão como Zetti, os já citados Palhinha e Sierra, e ainda os veteranos Alemão e Cerezo? Como corintiano, babo de inveja de um elenco como esse.
Será que o problema maior não está fora das quatro linhas?

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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