São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Romance é baseado em pesquisa coletiva

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O delírio ficcional de "O Xangô de Baker Street" está assentado numa pesquisa minuciosa.
Além de consultar mais de 70 livros (relacionados no final do romance), Jô Soares contou com a ajuda de duas pesquisadoras: a antropóloga Lilia Schwarcz e a historiadora Angela Marques da Costa.
Elas não só ajudaram Jô a evitar eventuais anacronismos, como também forneceram informações valiosas sobre o período em que se passa a ação do romance (1886, final do reinado de Pedro 2º).
Nas situações de emergência (geralmente de madrugada), o escritor recorria à equipe de plantonistas do Departamento de Documentação (Dedoc) da editora Abril, que solucionavam suas dúvidas sobre nomes de ruas do Rio, localização de hotéis, chegadas de navios e outros detalhes.
Durante seu trabalho de pesquisa e redação do livro, que durou de novembro de 94 a 30 de junho último, Jô Soares pôde comprovar que a realidade muitas vezes é mais pitoresca e extravagante que a própria ficção.
"Eu imaginava certas coisas, ia pesquisar e descobria que elas eram verdadeiras", diz o escritor.
Um exemplo é o da máscara de Flandres, semelhante à usada pelo psicopata Hannibal Lecter em "O Silêncio dos Inocentes", que Jô inventou de colocar num louco de seu livro.
"Eu só queria fazer uma brincadeira alusiva ao filme, mas a Lilia Schwarcz me disse que de fato se usava no país esse tipo de máscara, para impedir que os escravos se matassem comendo terra e que os mineradores engolissem diamantes para ficar com eles", diz o autor.
A colaboração de Lilia -mulher do editor do livro, Luiz Schwarcz- também foi fruto de uma coincidência feliz: ela prepara uma tese de livre-docência exatamente sobre o período do Segundo Reinado, e tinha toda a atmosfera da época na ponta da língua.
Mas tanto ela como Angela Marques dizem que quando entraram no trabalho Jô já tinha a estrutura do livro montada e uma pesquisa bastante avançada sobre o tema. "Nosso trabalho se limitou à discussão de detalhes, apontar diálogos que não podiam ter acontecido, coisas assim. Entramos com a consciência dos limites de época", diz Lilia.
Angela Marques, que já trabalhou no Arquivo do Estado e no MIS, pesquisou sobretudo os jornais e publicações da época, para dar exatidão aos dados do livro.
Contente com o trabalho, ela se diz "impressionada com a habilidade de Jô para selecionar as informações que recebia e empregá-las no corpo de sua narração".

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